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Imprevistos surgem na remontagem do Órgão Arp Schnitger da Catedral de Mariana

04 de outubro de 2022 Arquidiocese

Foto: Thalia Gonçalves

Como parte dos trabalhos de finalização das obras de restauração da Catedral de Nossa Senhora da Assunção, Sé da Arquidiocese de Mariana, teve início em 1º de setembro deste ano a remontagem do Órgão Arp Schnitger. O instrumento, datado do século XVIII, foi fabricado na Alemanha e doado à então Diocese de Mariana em 1748. Contudo, durante esse procedimento alguns imprevistos foram encontrados, comprometendo à continuidade dos trabalhos.

O processo de remontagem foi confiado a empresa Taller de Organería, da Espanha, por meio dos trabalhos de Frederic Desmottes, que há 42 anos realiza a montagem e desmontagem de órgãos, e de sua filha, Olívia Desmottes, que por aproximadamente 20 dias estiveram em Mariana (MG) fazendo os procedimentos necessários. Além disso, conta com a supervisão do arquiteto responsável pelas obras de elementos artísticos da Catedral, Artur Coelho, e também dos trabalhos feitos pelo jovem Guilherme.

Processo de remontagem do órgão. Foto: Arquivo do Pe. Geraldo Buziani/Divulgação

Com um vasto conhecimento nesse tipo de instrumento e muita experiência na área, Fréderic conta que para a realização desse trabalho a primeira parte foi feita há seis anos e meio com a desmontagem dos tubos de metal presentes no órgão que, posteriormente, foram guardadas no Museu da Música de Mariana.

Já para setembro deste ano, a previsão era que fossem feitos a montagem da peça, a limpeza e a colocação do tubo para afinação do Órgão. Entretanto, durante a limpeza, foi descoberto que as duas peças principais do instrumento, que desempenham papéis como se fossem o motor do órgão, pois levam o ar para os tubos, estavam comprometidas com a presença de cupins. Diante desse imprevisto, o processo de remontagem do órgão necessitou ser revisto.

Imprevisto

Segundo Fréderic, o problema está no someiro, que tem peças de compensado que foram colocadas durante uma restauração ocorrida em 1982. “Uma vez localizado o problema, achamos a solução. A única solução que se pode fazer agora é levar essas duas peças grandes para a Espanha, para a oficina, para tirar todas as partes de compensado e voltar a colocar as partes de carvalho que foram substituídas no ano de 1982. É um trabalho bem delicado, que precisa ter ferramentas especiais, como temos na oficina, e também ter carvalhos bons, que se tenham dez anos de secagem, para garantir o futuro e funcionamento do órgão”, destaca o organeiro.

Fréderic, Olivia e Padre Geraldo Buziani na Catedral de Mariana. Foto: Thalia Gonçalves

Pela complexidade do trabalho e cuidado exigidos neste caso e por se tratar de um instrumento histórico e importante, Fréderic explica que o transporte das peças para a Espanha exige alguns cuidados próprios como a autorização Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da contratação de uma empresa especializada no transporte de obra de artes, a fim de garantir a segurança das peças.

De acordo com o Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, Padre Geraldo Dias Buziani, que acolheu Fréderic e Olivia durante a estadia deles em Mariana, todo o trabalho está sendo acompanhado todas as questões relacionadas à montagem do Órgão Arp Schnitger. Além disso, a organista da Catedral, Josinéia Godino, e outras instituições também estão se empenhando nesse processo de reforma e de montagem do órgão.

Padre Geraldo Buziani ainda pontua que, como pároco, vai empreender todos os esforços possíveis, juntamente com as instituições parceiras da Arquidiocese de Mariana, para a elaboração do projeto e adquirir recursos necessários para a restauração das peças danificadas. “Vamos fazer o máximo para elaborar o projeto, captar recursos diante das empresas e instituições, para que a gente possa viabilizar o mais rápido possível o envio das peças que estão com problema para a Espanha, e o seu retorno para com isso continuar prosseguir com o processo de remontagem do órgão da Catedral”, afirma.

Josinei, Fréderic e Olivia conversam sobre o órgão. Foto: Arquivo do Pe. Geraldo Buziani/Divulgação

Devido a manifestação de cupins nas peças principais do Órgão, a restauração que estava prevista para durar de 20 a 25 dias teve o seu prazo estendido. “Só o processo de restauro das duas partes dos someiros são oito semanas, mas vai demorar mais tempo porque temos que preparar as caixas e ter todas as permissões legais para poder mandar. Então, vai demorar eu acho que vários meses”, diz Fréderic.

Enfatizando a necessidade de conservação e zelo com o instrumento, o organeiro ressalta a importância desse instrumento para a Catedral-Basílica de Mariana. “Esse órgão é muito especial, [pois] é único [não somente] em Minas Gerais, mas no Brasil. [É] um órgão fabricado na Alemanha, Burgo, no ano de 1701, e que foi comprado de Portugal para Mariana. É um órgão muito importante porque é único, que não se encontra em outro lugar do mundo um órgão desse tipo fora da Alemanha do norte. E no contexto do Brasil é o instrumento mais antigo que se tem”, detalha Fréderic.

Sobre o Órgão

No ano de 1747, o Órgão Arp Schnitger foi adquirido pelo português Dom João V, que pretendia enviar a peça à Mariana, mas devido ao seu falecimento isso não ocorreu naquele ano. No ano de 1748, Dom José I, filho de Dom João V, enviou o instrumento como presente para a Diocese de Mariana.

Foto: Thalia Gonçalves

*Este texto foi atualizado em 07/10/2022 às 08h13