O Arcebispo Metropolitano de Mariana, sacerdotes do clero marianense, Dom Barroso e o casal Jacques Boulieu e Maria Helena de Toledo em visita ao Museu em março de 2022. Foto: Ane Souz
Uma vida entrelaçada pela fé e pela arte. Assim viveu o senhor Jacques Boulieu falecido no último sábado, 11 de maio, no Rio de Janeiro (RJ). Grande admirador da arte sacra e, por muitos anos, benfeitor de muitos dos seminaristas do Seminário São José, juntamente com a sua esposa Maria Helena de Toledo doou à Arquidiocese de Mariana o ser acervo artístico de mais de duas mil obras que hoje constituem o “Museu Boulieu – Caminhos da Fé”, em Ouro Preto (MG).
No dia que se recorda o sétimo dia de seu falecimento, o Padre Marcelo Moreira Santiago presta uma homenagem ao senhor Jacques Boulieu e sua solidariedade à senhora Maria Helena de Toledo.
Por diversos caminhos, nossa vida, em sua passagem terrena, envolta em mistérios e desígnios, se orienta para Deus. Ele é o Belo por excelência e d’Ele emana toda beleza, captada, de diversos modos, pela arte humana, em suas muitas expressões. Com Jacques Boulieu, não foi diferente.
Ainda jovem, na altura de seus 24 anos, em 1951, ele deixou a França, sua terra natal, e veio para o nosso continente. Em 1959, ele se casou, no Rio de Janeiro, com Maria Helena de Toledo.
Por 50 anos o casal franco-brasileiro viajou pelo Brasil, pela América Latina, Europa e Ásia adquirindo um precioso acervo artístico, histórico, cultural e religioso, dos mais importantes, constituído por objetos de arte sacra ligados à história dos grandes descobrimentos e expansão da Espanha e Portugal nas Américas e na Ásia, a partir do século XV.
Jacques, com Maria Helena, se torna não só um renomado entusiasta e profundo conhecedor da história e da arte destes povos, mas, qual protetor desses bens artísticos, se revela um verdadeiro “mecenas” dos nossos tempos, contribuindo, em muito, para que esse acervo, tão precioso, não viesse, com o tempo, a perder-se.
Hoje, esse acervo que totaliza mais de duas mil peças, doado à Arquidiocese de Mariana, está aberto à visitação, em Ouro Preto (MG), onde foi constituído o “Museu Boulieu – Caminhos da Fé”. Em sua apresentação, ele evoca a expansão da civilização europeia e da fé cristã no Novo Mundo dos Grandes Descobrimentos.
No contato com a Arte Sacra, Jacques vivencia, ao lado de Maria Helena, toda uma profundidade religiosa advinda desse acervo, expressão sagrada de religiosidade de muitos povos, sobretudo os de matriz cristã.
Sua vida ganha assim alcances de maior sensibilidade humana e cristã, respeito aos povos, às suas culturas e expressões religiosas, solidariedade às suas necessidades e anseios… percepção do valor e da importância da fé como ordenadora em vista de um mundo melhor, sinalizador do Reino definitivo… experiências muito ricas que vivência, em todos esses anos, que o fez, com seu estilo próprio, “caminhar nos caminhos da Fé” e cumprir, com frutos, a missão que Deus lhe confiou.
Ao celebrar sua páscoa, deixando esse mundo para a eternidade no Coração de Deus, ocorrida nesse último dia 11 de maio, no Rio de Janeiro, apresentamos nossa solidariedade a dona Maria Helena, amiga e benfeitora, e a seus familiares; bendizemos a Deus pela vida do Sr. Jacques, especialmente, pelos dons colocados a serviço; pelo seu carinho para com Maria Helena, sua esposa, e familiares; por sua vida altruísta, suas ações de bondade e caridade como em favor de tantas iniciativas eclesiais e da formação, sobretudo, de futuros sacerdotes; por esse acervo colocado a serviço da humanidade, a partir de Ouro Preto e da Arquidiocese de Mariana, por meio do Museu Boulieu – Caminhos da Fé, que será sempre um convite a revisitar a fé cristã, testemunhada pela exuberância artística que ele congrega.
Da arte a fé, é o grande percurso que o Museu Boulieu nos convida a fazer. Foi assim também a vida de Jacques Boulieu. Obrigado, Jacques. Posso imaginar, como o vi, tantas vezes, se encantar pela Arte Sacra, qual não será seu encantamento diante da visão beatífica daquele que foi e é a razão de todo esse esplendor artístico, produzido por mãos humanas. Contemple agora, na vida plena e perene, o verdadeiro artista que é Deus.
Sei que vai se maravilhar muito e muito mais. Foi d’Ele que você falou nesse mundo, por meio do amor devotado à Maria Helena, da vida oblativa, colocada a serviço, e da arte, do acervo que conquistou e que, com generosidade e lucidez, nos deixou para ser admirado e nos conduzir a Deus, em nossa Ouro Preto, cidade cosmopolita, Patrimônio Cultural da Humanidade.
Esse é seu grande legado de fé e amor, de quem, pela arte, cumpriu o mandato divino de levar aos confins da terra a Boa Nova, incutindo nos corações humanos, por meio da Arte Sacra, os sinais do Reino definitivo, de mundo bonito para uma humanidade feliz.
A você, Jacques Joseph Boulieu, in memoriam, nossa gratidão perene!
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Texto: Pe. Marcelo Moreira Santiago