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“O Brasil que queremos: o bem viver dos povos” foi tema do Seminário Nacional da 6ª Semana Social Brasileira

26 de outubro de 2021 Igreja no Brasil

A 6ª Semana Social Brasileira (SSB), mobilizada pela Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e realizada pelas Pastorais Sociais e Movimentos Sociais, realizou no último sábado, no formato híbrido, o Seminário Nacional com o Tema: “O Brasil que queremos: o bem viver dos povos”. A equipe executiva da 6ª SSB esteve reunida na sede da CNBB, em Brasília (DF), de onde ocorreu a transmissão do Seminário. Somaram-se ao evento, mais de 500 pessoas, por meio da participação online.

Equipe executiva da SSB

Dom Joel Portella Amado

Na abertura do Seminário, o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, motivou os participantes a prosseguir na construção do Reino de Deus, nas “suas implicações humanas, ou como costumamos dizer, nas implicações sociais, ou se quisermos ser mais atuais, nas suas implicações socioambientais”, afirmou o secretário, que ainda lembrou: “Vivemos um momento histórico de construção. O mundo como um todo precisa de um novo rumo. Essa tem sido uma das grandes referências que o papa Francisco nos tem dado em suas encíclicas Laudato Si e Fratelli Tutti”, ressaltou.

Por fim, dom Joel, lembrou que: “Ouvindo os inúmeros clamores que brotam dos sofrimentos de tantos irmão e irmãs, ouvindo esses clamores, aliados aos clamores ambientais, aliados aos clamores da Casa Comum, nós não podemos ficar de braços cruzados. Não se trata apenas de deixar de contribuir para que os sofrimentos, não ter consciência tranquila de que não está causando o mal, é preciso agir para que os sofrimentos não cresçam, e mais ainda, parem de acontecer. Não basta não ser o responsável pelos males, é preciso também, trabalhar esses males”, afirmou o secretário.

Bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB, dom José Valdeci Mendes

O bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB, dom José Valdeci Mendes, convidou os participantes para impulsionar o Mutirão pelo do Brasil que queremos. Que chegue às comunidades, a todos os trabalhadores e trabalhadoras, para que o sonho que sonhamos, seja um sonho junto, de esperança!”

Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente CNBB, em mensagem por vídeo, ressaltou os 30 anos de história e serviço das Semanas Sociais Brasileiras, em especial, neste contexto ainda mais difícil de retrocessos e de pandemia. Ele lembrou que somos povos peregrinos a caminho do reino definitivo. “Peço a cada um e a cada uma que não desanime, persista! Siga adiante na bonita tarefa de fazer o bem buscando transformar realidades”.

Os mutirões pelo Brasil

Desde 2021 vem sendo realizado em todo o Brasil, os Mutirões pela Vida: Por Terra, Teto e Trabalho, no Seminário foram trazidos os ecos dessas ações. Abrindo o momento de reflexões e experiências, Ormezita Barbosa, diretora executiva do Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), trauxe o tema da Terra/Território, a partir realidade social, econômica e política do Brasil. Ozmezita lembrou: “estamos  vivendo em um período marcado por muitas disputas pelos bens comuns, e percebemos como isso tem intensificado os conflitos e atingido de forma muito específica grupos de povos e comunidades tradicionais. A disputa pela água tem sido um elemento central dos conflitos, principalmente no campo, e isso tem gerado um intenso processo de desterritorialização desses povos e comunidades tradicionais. Destacamos o quanto a pandemia contribuiu para que esses conflitos se acirrassem e novos conflitos fossem surgindo”, enfatizou. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, em 2020 houve um aumento de quase 5% de conflitos agrários a mais em relação ao ano de 2019 .

Ao abordar os temas dos Mutirões pela Vida, Sandra Quintela, da equipe da coordenação nacional da 6ª SSB e Rede Jubileu Sul Brasil, falo da realidade de milhões de famílias brasileiras vivendo em vulnerabilidade e que buscam um espaço digno de moradia, de teto. Mais de 21 mil famílias foram despejadas durante a pandemia e quase 100 mil famílias estão ameaçadas de despejo no Brasil hoje, morando em situação precária, em cortiços, sem saneamento básico, sem água potável e mesmo assim estão ameaçadas de despejo. Então é muito importante a discussão sobre a função social da propriedade, tanto quando discutimos terra, quanto teto. São quase 8 milhões de residências no Brasil vazias, enquanto são quase 8 milhões de pessoas sem teto”, ressaltou Quintela.

Sandra ainda enfatizou que quando se fala em teto é preciso englobar tudo: comida, energia elétrica, escola pública de qualidade, saneamento básico, e alerta para o aumento crescente do gás, da energia elétrica e das dificuldades que só se acumulam. Na pandemia, se não fossem as organizações nas periferias, a solidariedade dos movimentos terra/teto  como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), muito mais pessoas estariam passando fome. As periferias se auto-organizaram para enfrentar a pandemia e a fome. Olha, o potencial de vida que temos aí. É semente e sonho, projeto reconstrução, mutirão pela vida!”, enfatizou

Destacando o tema trabalho, Jardel Lopes, da equipe de coordenação da 6ª SSB e secretário nacional da Pastoral Operária, trouxe o panorama da situação dos trabalhadores e trabalhadoras no país, sendo mais de 60% da população econômica ativa (que trabalha), está sem proteção, sem direito, desempregados e  trazendo de volta o aumento de casos de trabalhadores em condição análoga à escravidão. Destacando as mulheres e homens negros que são ainda mais vulnerabilizados.

São mais de 50 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em condições de vulnerabilidade, que estão desempregados ou desalentados. O número de desalentados que temos hoje supera o número que já tivemos de desempregados no nosso país. É um drama, porque se trata de pessoas que já perderam a esperança de conseguir emprego ou são subutilizadas, ou na informalidade, sem direitos ou com direitos reduzidos.”

Em sintonia com os temas refletidos através de falas e vídeos inspiradores, que foram trazidos no decorrer do Seminário dom José Valdeci Santos Mendes e Kelly Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra resgataram cada um dos pontos e as dimensões das lutas por Terra, Teto e Trabalho.

“Vivemos em um tempo histórico, como trouxe as várias sínteses que ouvimos. Essa confrontação está entre, os interesses da vida humana, as necessidades humanas  e os interesses privados do capital. É a luta de classes materializada na vida contra a morte. Na luta daqueles e daquelas que querem viver e é por isso que é tão importante que a gente atualize esses elementos e tenhamos eles como um grande motivador para que a gente possa avançar nos processos de libertação do nosso povo. Marcamos um novo ciclo da 6ª SSB, com o projeto popular para o Brasil que queremos: o bem viver do povos”.

Também, no Seminário, foi apresentada a síntese dos processos construindo no decorrer dos 30 anos das Semanas Sociais Brasileiras e a proposta para a construção do Projeto Popular o Brasil que queremos: o bem viver dos povos. O indicativo para o projeto, é que seja uma construção coletiva, a partir dos territórios, num processo amplo e plural de resistência, reflexão e incidência para a construção do Brasil que queremos, na perspectiva do bem viver dos povos.

Texto e imagens: Assessoria da 6ª Semana Social Brasileira

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