A recente viagem apostólica do Papa Francisco a Malta foi o tema da catequese do Pontífice na Audiência Geral desta quarta-feira, 06 de abril, realizada na Sala Paulo VI.
A viagem apostólica do Papa a Malta estava planejada para se realizar em 2020, mas foi adiada por causa da pandemia da Covid-19. Segundo o Papa, “poucas pessoas sabem que Malta, embora sendo uma ilha no meio do Mediterrâneo, recebeu o Evangelho muito cedo, porque o Apóstolo Paulo naufragou perto do seu litoral e milagrosamente salvou-se a si mesmo e a todos os que estavam no barco, mais de duzentas e setenta pessoas. Os Atos dos Apóstolos relatam que os malteses acolheram todos «com rara humanidade».”
Escolhi precisamente estas palavras: com rara humanidade, como lema da minha Viagem, pois indicam o caminho a seguir não só para enfrentar o fenômeno dos migrantes, mas em geral para que o mundo se torne mais fraterno, mais habitável, e se salve de um “naufrágio” que ameaça a todos nós que estamos, como aprendemos, no mesmo barco, todos. Malta é um lugar-chave neste horizonte”.
Primeiramente, Malta é um lugar-chave “geograficamente, devido à sua posição no centro do mar entre a Europa e a África, mas que também banha a Ásia. Malta é uma espécie de “rosa dos ventos”, onde povos e culturas se encontram; é um ponto privilegiado a partir do qual se pode observar a área mediterrânea numa perspectiva de 360°. Hoje, fala-se frequentemente de “geopolítica”, mas infelizmente a lógica dominante é a das estratégias dos Estados mais poderosos para afirmar os seus interesses alargando a própria área de influência econômica, ideológica e militar. Estamos vendo isso com a guerra”, disse o Papa, acrescentando:
Malta representa, neste quadro, o direito e a força dos “pequenos”, das nações pequenas, mas ricas em história e civilização, que deveriam levar a cabo outra lógica: a do respeito, mas também a lógica da liberdade, da convivência das diferenças, oposta à colonização dos mais poderosos. Estamos vendo isso agora e não somente de uma parte, mas também da outra.
O segundo aspecto é que “Malta é um lugar-chave no que diz respeito ao fenômeno das migrações“. “No Centro de acolhimento João XXIII, encontrei-me com muitos migrantes que chegaram à ilha após terríveis viagens”, frisou o Papa, convidando a “ouvir os seus testemunhos, porque esta é a única forma de fugir da visão distorcida que frequentemente circula nos meios de comunicação e reconhecer os seus rostos, histórias, feridas, sonhos e esperanças desses migrantes”.
Cada migrante é único, não é um número, é uma pessoa, é único como cada um de nós. Cada migrante é uma pessoa com a própria dignidade, raízes e cultura. Cada um deles é portador de uma riqueza infinitamente maior do que os problemas que podem surgir. Não nos esqueçamos de que a Europa foi formada por migrações.
Obviamente, “o acolhimento deve ser organizado, deve ser planejado juntos, no âmbito internacional”, frisou o Papa, pois “o fenômeno migratório não pode ser reduzido a uma emergência, é um sinal dos nossos tempos. Deve ser lido e interpretado como tal. Pode tornar-se um sinal de conflito ou um sinal de paz”.
A seguir, Francisco disse que o Centro de acolhimento de migrantes João XXIII, em Malta, é um “laboratório de paz”, e que “Malta no seu conjunto é um laboratório de paz! Toda nação com o seu comportamento é um laboratório de paz” e “pode cumprir esta missão se buscar nas suas raízes a seiva da fraternidade, da compaixão e da solidariedade. O povo maltês recebeu estes valores junto com o Evangelho, e graças ao Evangelho eles serão capazes de os manter vivos”.
O terceiro aspecto é que “Malta é um lugar-chave também do ponto de vista da evangelização. De Malta e Gozo, as duas dioceses do país, muitos sacerdotes e religiosos, bem como fiéis leigos, partiram, dando testemunho cristão em todo o mundo. Como se a passagem de São Paulo tivesse deixado a missão no DNA dos malteses! Por isso, a minha visita foi, primeiramente, um ato de gratidão, gratidão a Deus e ao seu santo povo fiel que está em Malta e Gozo”.
O Papa recordou que em Malta “também sopra o vento do secularismo e a pseudocultura globalizada do consumismo, do neocapitalismo e do relativismo”. “Também lá, portanto, é tempo de nova evangelização”, frisou ele, recordando a visita à Gruta de São Paulo, ao Santuário Nacional Mariano de Ta’ Pinu, na ilha de Gozo. “Lá senti palpitar o coração do povo maltês, que tem tanta confiança na sua Santa Mãe. Maria nos traz sempre de volta ao essencial, a Cristo crucificado e ressuscitado por nós, ao seu amor misericordioso. Maria nos ajuda a reavivar a chama da fé, atraindo o fogo do Espírito Santo, que anima o jubiloso anúncio do Evangelho de geração em geração, pois a alegria da Igreja é evangelizar!”, disse ainda o Papa, recordando as palavras de São Paulo VI: “A vocação da Igreja é evangelizar. A alegria da Igreja é evangelizar. É a definição mais bonita da Igreja”.
Francisco recordou o frade franciscano pe. Dionísio Mintoff de 91 anos que continua trabalhando no Centro de Acolhimento de Migrantes João XXIII, em Malta, com a ajuda de colaboradores da Diocese. “É um exemplo de zelo apostólico e amor pelos migrantes, muito necessário hoje”, concluiu o Papa, agradecendo ao povo maltês pelo acolhimento humano e cristão.
Texto: Mariangela Jaguraba – Vatican News
Imagem: Vatican News
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