No quarto dia da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, o texto bíblico que iluminou as reflexões foi “Ide e fazeis discípulos todos os povos” (Mt 28, 19). Pela manhã, o coordenador da equipe teológica do Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), padre Carlos Galli, aprofundou o tema “A Igreja em saída missionária”.
Ao final da bloco matutino da Assembleia Eclesial, foi realizada a Coletiva de Imprensa com a participação da presidente da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), irmã Maria Inês Vieira Ribeiro; da jovem dominicana Yamille Morillo, do jesuíta colombiano Alfredo Ferro, secretário executivo da CEAMA, e do bispo de Huehuetenango, na Guatemala, cardeal Álvaro Ramazzini.
Cada um partilhou sobre sua realidade e falou das expectativas ao participara da Assembleia Eclesial. Yamille Morillo, representando a Pastoral Juvenil Latino Americana disse que os jovens querem “aproveitar esse maravilhoso tempo de graça para que as vozes dos nossos jovens sejam escutadas e cada um de nossos sonhos e esperanças sejam contempladas nas conclusões dessa primeira assembleia”.
Para ela, a Assembleia é oportunidade de retomar as reflexões de Puebla, quando se fez a opção preferencial pelos jovens, e do Sínodo para os Jovens, em vista de ações concretas.
O cardeal Ramazzini esteve presente na Conferência de Santo Domingo, no Sínodo para a América e na Conferência de Aparecida e ressaltou ter visto “o desenvolvimento de uma Igreja na América Latina e no Caribe que quer estar muito atenta aos sinais dos tempos e que quer dar respostas a problemáticas muito concretas”.
Uma das realidades concretas diz respeito aos jovens, que enfrentam as consequências das gangues. “O que se denota é uma crise na família muito profunda e que também denota toda uma violência que foi institucionalizada nesses países por termos vivido conflitos armados, como El Salvador, Guatemala, etc”, citou o cardeal.
Para ele, há uma preocupação pastoral e humana, com as situações de violência e de “uma série de desrespeitos à vida”. Ramazzini também potuou a falta de oportunidades aos jovens, o que reflete nos fluxos migratórios. “Esse é um tema que deve ser analisado não só social, política e economicamente, mas, sobretudo, pastoralmente”, salientou. Outra preocupação é o “relativismo ético que está entrando desde os meios de comunicação social. Se vai criando um estilo de vida em que os valores éticos vão sendo deixados de lado”.
Irmã Maria Inês Ribeiro comentou que a realidade desafiante aos jovens também está presente no Brasil.
Em uma das perguntas enviadas pelos jornalistas, foi pedido ao cardeal Ramazzini que comentasse sobre a inspiração da figura de Dom Luciano Mendes de Almeida. Os dois estiveram na 4ª Conferência do Episcopado Latino Americano, em Santo Domingo.
Para o cardeal guatemalteco, dom Luciano foi um dos ‘salvadores’ daquele evento continental, pois tornou possível a realização diante das dificuldades que se apresentaram.
“Recordo com muito carinho: um homem muito coerente, muito tranquilo, gentil, sempre buscando o diálogo. No início da 4ª Conferência, houve problemas e mudaram tudo, tivemos que trabalhar à noite. Sem dúvida, a paciência, a mansidão, a amabilidade de dom Luciano foram ajudando para que novamente encontrássemos o caminho. Seu exemplo de humildade e de inteligência foi realmente uma graça para o que tivemos em Santo Domingo. Sem o seu apoio e sua intervenção, Santo Domingo não teria produzido o documento”, partilhou ressaltando o “amor muito profundo à Igreja e ao povo de Deus” observados em dom Luciano.
À presidente da CRB, foi perguntado se é possível fortalecer a presença feminina na Igreja sem a possibilidade de ordenações das mulheres. Irmã Maria Inês respondeu que essa não é uma discussão que ocorre no âmbito da vida consagrada no Brasil, mas há uma reflexão no que diz respeito à presença da mulher nos espaços deliberativos da Igreja.
“Não precisa que a mulher seja ordenada para celebrar a eucaristia, mas que ela participe dos processos decisórios”, ressaltou.
Para irmã Maria Inês, a vida consagrada, as mulheres, respondem, ao perfil mariano da Igreja, “que é estar onde a vida está mais ameaçada, é defender a vida, é estar realmente participando dos processos deliberativos em favor da vida”.
Para a religiosa, uma ordenação diaconal ou presbiteral das mulheres pode fazê-las encerrarem-se “nas sacristias, como ainda estamos vivendo em nossa américa latina e no Brasil [com os padres]”.
“Eu me preocupo claramente com a formação dos nossos próximos sacerdotes, muito preocupados com a parte litúrgica, com as celebrações, com os paramentos, com as vestes, enquanto eu vejo as mulheres e a vida consagrada feminina, principalmente, mais voltada para a vida, para a defesa da vida, par aa justiça. O lugar da mulher na Igreja é servir onde a vida mais clama e não estar à frente com um ministério episcopal, presbiteral ou diaconal, mas sendo respeitada na sua capacidade, na sua possibilidade de servir e participar de todas as decisões de uma comunidade diocesana, paroquial, comunitária, para que possamos agir juntos”.
A Assembleia continua nesta quinta-feira, iluminada pelo trecho bíblico “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti” (João 17, 21). Pela manhã, houve o painel “Da Assembleia Eclesial de América Latina e do Caribe até o Sínodo sobre a sinodalidade”. Os painelistas foram o secretário geral do Sínodo dos Bispos, cardeal Mario Grech, o prefeito da Congregação para os Bispos, cardeal Marc Ouellet; e a presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos e Religiosas (Clar), irmã Liliana Franco, ODN.
Texto e imagem: CNBB
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