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Oração que eleva: peregrinos vão até a Cartuxa de Dom Viçoso rezar por sua beatificação

13 de fevereiro de 2019 Arquidiocese

Por Gabriela Santos

O calendário marca dia 13. O sol ainda nem apareceu, mas aos poucos um pequeno grupo vai se formando na Praça Minas Gerais, em Mariana. Às 6h, os caminhantes saem rumo ao destino de quase 4km. O percurso, quase todo de ladeira, tem um objetivo que dribla qualquer cansaço: rezar pela beatificação do Venerável Dom Viçoso, na sua Cartuxa – local destinado aos seus momentos de oração pessoal.

Durante o caminho, o número de pessoas vai aumentando. De 12 para 15, 19 e passando de 30 no início da missa. No começo do percurso, os caminhantes fazem uma breve pausa na porta da casa de José das Mercês Paiva, conhecido como Mestre Paiva. Ele recebe a imagem de Nossa Senhora de Fátima que acompanha o grupo e lê um pequeno trecho do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. O trabalho de esculturas no ateliê impede que ele venha junto. Mas Mestre Paiva faz questão de recebê-la todo o dia 13. “Ela passa aqui e abençoa o mês todo”, diz.

Iniciando a subida, o grupo revessa para carregar a santa. Enquanto isso, os dedos passam e repassam pelas contas dos terços. Distribuindo medalhas e santinhos, alguns peregrinos vão cumprimentando os que saem para o trabalho e para a escola. Falta mais que a metade do caminho.

É muita fé em Deus
e agradecimento a
Dom Viçoso
que traz 

a gente aqui.

Maria Geralda Xavier

 

“É muita fé em Deus e agradecimento a Dom Viçoso que traz a gente aqui”, revela Maria Geralda Xavier, que sobe o morro apoiada na irmã, Maria Imaculada da Silva. As duas, paroquianas da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, nasceram e foram criadas na Cartuxa de Dom Viçoso e só saíram de lá depois que casaram. O pai delas foi zelador do local por 37 anos.

“Problema todo mundo tem, mas tendo fé e pedindo a intercessão de Dom Viçoso, a gente alcança [as graças]” diz Maria Geralda, antes de contar que também rezou pela beatificação e canonização de outro santo. “A gente sempre pede, principalmente pela beatificação. Caminhada é pra pedir mesmo. Pedimos pra São João Paulo II, que já está nos altares, e agora por Dom Viçoso”, afirma.

​Vestindo camisetas estampadas com a imagem do Venerável, as duas irmãs seguem a passos lentos, atrás dos outros caminhantes. Mais a frente está Elizabeth Sacramento, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, que marca presença em todos os dias 13. “Hoje eu quase esqueci, uma amiga me ligou às 5h perguntando se eu ia”.

As celebrações na Cartuxa do Venerável começaram após o pedido do arcebispo emérito da Arquidiocese de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha. Foi ele também que instituiu, em 2007, o Tribunal Eclesiástico para ouvir os testemunhos prestados por oito depoentes e três médicos que acompanharam a recuperação extraordinária da saúde do padre Célio Maria Dell’Amore, CM, que era Reitor do Santuário do Caraça quando foi acometido por uma hemorragia subaracnóidea. Segundo alguns dos relatos de Monsenhor Flávio Carneiro Rodrigues e de Padre Luiz Antônio Reis, o padre Célio – que estava internado no CTI do Hospital Madre Tereza, em Belo Horizonte – alcançou melhora definitiva e quase imediata após colocarem em sua cabeça o solidéu de Dom Viçoso.

“Dom Geraldo fez a primeira celebração e pediu que todo dia 13 de cada mês houvesse uma missa ali em honra a Dom Viçoso. A casa, cedida em comodato pela Congregação da Missão para a Arquidiocese, era o local onde Dom Viçoso fazia os estudos, reflexões, retiros espirituais, onde ele vivia momentos místicos”, explica padre Paulo Barbosa, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Assunção na época da chegada de Dom Geraldo, em 2007.

Missa

Passando pelo portal que delimita a Cartuxa, os peregrinos chegam por volta das 8h30 para a celebração eucarística. O padre aguarda a chegada do povo, que se espalha em frente à Casa de Dom Viçoso. A celebração começa com o reforço do motivo de todos estarem ali: a reza pela causa da beatificação do Venerável.

Quem chega ao local tem a chance de se surpreender com a beleza escondida no alto da cidade. Uma casa simples, pintada de branco e com detalhes em azul, é uma das únicas interferências humanas na paisagem. De lá é possível ter uma visão panorâmica da cidade. O barulho de água é uma constante, somado ao canto das diversas espécies de pássaros. No porão, há uma capela com a imagem de São Vicente de Paulo, santo fundador da Congregação da Missão, a qual pertencia Dom Viçoso. Dentro da casa, há a cama onde dormia Dom Viçoso e um quadro do seu santo de devoção: São Bruno de Colônia. Quem se aventurar mais a fundo no terreno descobre uma gruta com uma imagem de Nossa Senhora das Graças, ao lado de uma queda d’água e da vegetação nativa.

“Dom Viçoso construiu a Cartuxa para poder sair do barulho da cidade, para se recolher, para silenciar. Talvez a inspiração que venha para todos nós hoje seja também essa: a necessidade de que nós também façamos silêncio, a necessidade de nos recolher e buscarmos um pouco mais essa tranquilidade que a natureza nos dá”, refletiu na homilia padre Valter Magno de Carvalho, celebrante do dia.


Padre Valter reforçou que talvez fosse desejo de Dom Viçoso, já naquele tempo em que construiu a cartuxa, de que nós também aprendêssemos sobre a necessidade de parar e contemplar a beleza de Deus nas coisas em que Ele mesmo faz. “Que essa seja uma inspiração para nós: termos a capacidade de silenciarmos o coração para contemplar nas coisas que Deus fez, a própria ação criadora. O catecismo [CIC 41] nos diz que nas obras feitas, nós enxergamos o criador. Nas obras criadas, nós podemos contemplar aquele que as criou, Deus. E aqui é um lugar propício pra isso”,

Dom Viçoso

Dom Antonio José Ferreira Viçoso (1787-1875), nasceu em Peniche, Portugal e foi ordenado sacerdote em 1818. Chegou ao Brasil de dom João VI no ano seguinte. Inicialmente abriu o Colégio do Caraça e se dedicou ao serviço da Palavra de Deus, pregando missões nos povoados mineiros. Esteve por 15 anos em Jacuecanga, entorno de Angra dos Reis. Regressando a Minas (1837), foi eleito Superior Geral dos Lazaristas e, no ano de 1844, separado para o episcopado. Ordenado Bispo no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, governou o bispado de Mariana por 29 anos: foi, então, pai extremoso dos pobres e órfãos, protetor dos escravos, abnegado missionário, reformador do clero, defensor dos direitos da Igreja, exemplar devoto da Virgem Maria.
Recebeu em 8 de julho de 2014 o título de Venerável, com a publicação do decreto que reconheceu as suas virtudes heroicas. Para a beatificação falta, ainda, uma última exigência: a aprovação do milagre que está sendo analisado pelos peritos da Congregação das Causas dos Santos.

​Oração para pedir a Deus a beatificação de Dom Viçoso e alcançar graças por sua intercessão

Senhor Jesus Cristo, glória dos vossos sacerdotes, Bom Pastor que destes a vida pelas vossas ovelhas, nós vos agradecemos pelas virtudes e dons com que vos dignastes adornar a alma do grande bispo, Dom Antônio Ferreira Viçoso, para fazer dele um modelo luminoso de defensor da Igreja, reformador do clero e santificador do povo cristão.

Vós que prometestes glorificar aqueles que vos servirem, dignai-vos glorificar com a honra dos altares, se for para a maior glória da Santíssima Trindade e honra do vosso sacerdócio, este vosso servo, e concedei-nos, para esse fim, por sua intercessão junto de vós, a graça que confiantementr vos pedimos.
Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai.