quinta-feira

, 24 de abril de 2025

Padre Euder relata suas experiências com o Papa Francisco

24 de abril de 2025 Arquidiocese

Padre Euder Daniane Canuto Monteiro, pároco e reitor da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, em Conselheiro Lafaiete (MG) e diretor geral da Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM), morou por dois anos em Roma (2015 a 2017), onde estudou no Colégio Pio Brasileiro. Estando lá, teve a oportunidade de se encontrar com o Santo Padre, o Papa Francisco, e receber dele uma bênção.

O Departamento de Comunicação (DACOM) conversou com o Pe. Euder que falou do tempo em que viveu em Roma e das suas experiências com o Pontífice.

DACOM: Pe. Euder, o sr. teve a oportunidade de estudar em Roma durante o período do pontificado de Francisco e, certamente, deve ter tido a graça de poder vê-lo. Quais as características mais marcantes o sr. destacaria do Papa Francisco?

Pe. Euder: Eu estudei em Roma, cursando o Mestrado em Filosofia, entre os anos de 2015 e 2017, naqueles primeiros tempos que respirávamos o pontificado do Papa Francisco. Destacaria, dentre as principais características do Papa Francisco, o amor a Jesus Cristo, às pessoas e à Igreja; a alegria de viver o Evangelho; a capacidade de servir a Cristo sobretudo no serviço generoso aos mais necessitados; e, a parresía de um profeta que abriu portas e caminhos para que as futuras gerações possam entrar, percorrer e aprofundar.

DACOM: O sr. publicou uma foto em que cumprimenta o Papa. Como foi este momento? O que sentiu estando tão próximo a ele?

Pe. Euder:  Tive a graça de participar de algumas concelebrações eucarísticas presididas pelo Santo Padre e de estar muito perto dele algumas vezes, mas encontrá-lo mesmo e falar muito brevemente com ele foi apenas uma vez. Era o primeiro semestre de 2017 e eu estava na reta final de conclusão dos estudos. Eu estava em casa num sábado estudando e um dos membros da Comunidade Santo Egídio, com a qual eu tinha bastante contato e que era muito próxima ao Papa Francisco porque eles atuavam em Roma no cuidado com os irmãos de rua, me convidou para participar de uma Celebração da Palavra que o Papa Francisco presidiria na parte da tarde na Basílica São Bartolomeu, na Ilha Tiberina. Aceitei o convite e fui participar. Já era quase época de voltar ao Brasil e eu não tinha ainda experimentado uma oportunidade que muitos padres conseguem em momentos especiais de se encontrarem com o Papa em audiências privadas. E, nessa celebração, evidentemente a participação das pessoas era muito grande. Era uma multidão como de costume ocorre por onde o Papa passa. Me deram o ingresso que determinava o lugar onde eu ficaria aguardando o início da celebração. Minha grande surpresa foi quando o Papa Francisco chegou e, depois de ter cumprimentado no lado contrário do corredor onde eu estava, todas as crianças e pessoas que tinham alguma enfermidade ou que eram deficientes físicos, ele se voltou para o lado do corredor onde eu estava e viu uma bebê de colo nos braços erguidos da mãe que estava naquele momento ao meu lado. Imediatamente, ele veio até essa criança a tomou nos braços e beijou-lhe a testa. Foi nesse momento que, de leve e muito timidamente, toquei no antebraço do Papa e lhe disse em italiano: “Papa Francisco, sou da Diocese de Mariana, onde trabalhou um bispo jesuíta como o senhor, Dom Luciano Mendes”. Quando terminei de falar, minha surpresa foi muito grande porque ao me escutar, ele tratou logo de devolver a criança aos braços da mãe e voltando-se para mim com um olhar fixo nos meus olhos e um sorriso grande nos lábios, disse num tom de admiração: “Mariana!!!”. Naquele momento se aproximou de mim e eu perdi as palavras. Não conseguia dizer mais nada. Apenas consegui lhe dizer, com toda a humildade e emoção: “Dá-me tua bênção”. E ele traçou na minha testa o sinal da cruz. Aquilo me emocionou muito porque esse sinal da cruz na testa das pessoas sempre foi um gesto que costumo fazer com os outros quando me pedem alguma bênção ou em situações específicas em que as pessoas se apresentam em algum tipo de sofrimento. Posso dizer que o que senti naquele momento de proximidade do Papa foi a certeza da fé de que o Pastor é capaz de enxergar cada um de seus filhos. O gesto de proximidade do Papa, o seu sorriso e o seu olhar voltado para mim naquele momento me ofereceram a possibilidade de experimentar o Amor de Deus que não se esquece de nenhum de seus filhos e que mesmo em meio a uma multidão é capaz de ver a cada um e dedicar-lhe atenção. Foram alguns segundos, mas uma experiência de um encontro existencial pleno de sentido e que marca para a vida toda.

DACOM: O mundo todo se despede de uma das maiores lideranças do nosso tempo. Em que se baseia essa liderança tão marcante do Papa?

Pe. Euder: A meu ver a liderança do Papa Francisco se baseia essencialmente numa profunda relação de intimidade com o “Pastor Supremo” que é Cristo Jesus de modo que sua vida se tornou um espelho vivo de serviço e de doação à Igreja e ao mundo, numa oblação generosa, cheia de atitudes concretas em favor dos vulneráveis e compromisso sincero com “uma Igreja em saída”. Isso fala por si mesmo de tal modo que até aquelas lideranças que dele discordavam reconheciam sua autoridade porque esta era fundada em um testemunho de coerência.

DACOM: O papa era um homem muito simbólico. Quais ensinamentos que ele deixa para a humanidade?

Pe. Euder: A meu ver ele deixa muitos ensinamentos, tais como: que a autoridade é serviço; que devemos cultivar a alegria e a esperança mesmo em meio aos desafios da vida; que a santidade é um convite para todos; que a Igreja é Povo de Deus; que não podemos ser uma Igreja que se fecha em si mesma com medo de tudo e de todos; que é melhor sempre abraçar a verdade de nossos problemas mesmo que isso custe para a própria Igreja e para nós; que a Igreja e, por conseguinte, cada um de nós e de nossas comunidades, deve sair de si e ir ao encontro das periferias existenciais sejam elas quais forem em nossas realidades concretas; que é preciso promover a paz sem nunca se cansar; e, por fim, que a Igreja precisa cultivar um atitude de Misericórdia para com todos, de acolhida, ajudando a todos a compreenderem que Deus nunca desiste de nenhum de seus filhos, que Ele veio para salvar e não para condenar.

DACOM: O que devemos esperar do novo pontífice?

Pe. Euder: Acredito que devemos esperar do novo pontífice que seja cristão, isto é, que viva o Evangelho. Porque quem vive o Evangelho será um Bom Pastor para a Igreja e perseguirá os mesmos ideais que a Igreja trilha há tantos anos.

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