Aos 88 anos de idade, o Sumo Pontífice, o Papa Francisco, fez sua páscoa para a eternidade, no último dia 21 de abril. Foram 12 anos à frente da barca de Pedro, liderando e levando a Cristo a mais de 1 bilhão de fiéis em todo o mundo.
Desde seu falecimento, a imprensa tem feito uma extensa cobertura e levado a todos informações relevantes sobre o velório e sepultamento do Papa, bem como já estão falando sobre a escolha do novo papa. Contudo, muitos dos termos usados não são tão conhecidos por todos. Por isso, conversamos com o doutor em Direito Canônico, Padre José Cassimiro Sobrinho, a fim de que nos ajude a entender algumas das expressões que estão sendo repetidamente usadas.
Assim, ele nos definiu alguns termos:
Apostolica Sedes Vacans. Imagem: Vatican.va
1 – SEDE VACANTE
O termo SEDE, no sentido eclesiástico, significa a função do Papa, na Igreja Universal, e a função do Bispo, na Igreja Particular ou Diocese. Na morte ou na renúncia do Papa, a Sede fica vaga, sem o seu titular, até a eleição do novo Papa. A mesma coisa acontece com o Bispo diocesano, até a nomeação do seu sucessor.
Durante a vacância, a Santa Sé é dirigida pelo Decano do Colégio Cardinalício, cuja função é exercida, atualmente, pelo Cardeal João Batista Re. No caso da Diocese, sua direção fica a cargo do Administrador Diocesano, nomeado pelo Colégio de Consultores.
2 – CAMERLENGO
A palavra CAMERLENGO vem do latim medieval “camarlingus”, indicando aquela pessoa que estava adscrita aos aposentos do soberano. A partir do século XII, este termo (camerarius) passou a indicar aquele que é o responsável pela Cúria e pelos bens temporais da Santa Sé.
É, também, função do Camerlengo: 1ª Assumir o governo da Igreja, provisoriamente, até a eleição do novo Papa, atuando, conjuntamente, com o Colégio cardinalício; 2ª Constatar e comunicar, oficialmente, a morte do Papa; 3ª Selar o escritório e o quarto do Papa, após a sua morte, e o apartamento pontifício, após a sepultura do Papa; 4ª Providenciar o sepultamento do Papa e a organização do Conclave.
Durante o pontificado do Papa Francisco, o ofício de Camerlengo é exercido pelo Cardeal Kevin Joseph Ferrell.
Cardeal Kevin Joseph Ferrell. Foto: Vatican News
3 – PONTÍFICE
Etimologicamente, PONTÍFICE vem do latim “pontifex”, que, por sua vez, se compõe de duas outras palavras latinas, “pons-pontis”, que significa “ponte”, mais o verbo “facere”, que significa “fazer”. Pontífice, portanto, é aquele que estabelece ligação.
No sentido eclesiástico, este termo é aplicado ao Papa, Vigário de Cristo, aqui, na terra; aquele que, em Cristo, tem a função de estabelecer união entre Deus e a humanidade.
Neste sentido, os Bispos e os Sacerdotes, no grau próprio de cada um, são, também, pontífices, ou seja, aqueles que servem de ponte, para trazer Deus à terra e levar os homens a Deus.
4 – CARDEAL E COLÉGIO CARDINALÍCIO
CARDEAL vem do latim, “cardo-inis”, que significa “gonzo”, uma espécie de fechadura em torno da qual a porta gira de um lado para o outro. Neste sentido, os Cardeais são os titulares de determinadas Igrejas, das quais são dependentes e nas quais estão anexos. Embora, afixados em suas Igrejas, eles são disponíveis para outras funções que o Papa lhes confiar. São os colaboradores e os conselheiros do Papa.
A partir de 1059, o Papa Nicolau II, lhes reservou a eleição do Papa, o que perdura até os nossos dias. Normalmente, são eles os Prefeitos das Congregações romanas, os decanos dos Tribunais da Santa Sé e os Arcebispos ou Patriarcas das principais dioceses do mundo.
O Colégio Cardinalício é o conjunto ou a corporação de todos os Cardeais, que formam o Senado do Papa a serviço da Igreja Universal.
Cardeais brasileiros em Roma. Foto: Vatican News
Cardeal Giovanni Battista Re. Foto: Vatican News
5 – DECANO
DECANO, no sentido comum da palavra, é aquela pessoa que dirige uma determinada Instituição. No sentido eclesiástico, Decano é o Cardeal que preside o Colégio Cardinalício, sendo considerado “primus inter pares”, ou seja, o primeiro entre os iguais. Competem-lhe as seguintes funções: 1) Providenciar o funeral do Papa; 2) Ordenar bispo o papa eleito, caso não o seja ainda; 2) Convocar e presidir o Conclave para a eleição de um novo Papa.
O atual Decano, no pontificado e na morte do Papa Francisco, é o Cardeal Giovanni Battista Re.
6 – CONCLAVE
CONCLAVE se compõe de duas palavras latinas: “Cum” mais “clavis”, que significa “com chave”. No sentido eclesiástico, é o lugar fechado, onde os Cardeais se reúnem para a eleição de um novo Papa, sem contato e sem comunicação com o exterior. O local onde acontece o Conclave é a famosa Capela Sistina, ao lado da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Até pouco tempo, os Cardeais passavam dia e noite no mesmo lugar. Atualmente, eles se hospedam na Casa Santa Marta, construída pelo Papa João Paulo II, para esta finalidade.
As votações são realizadas quatro vezes ao dia, duas pela manhã e duas à tarde, até atingir o número determinado para a eleição do Papa. Os votos dos escrutínios, sem êxitos, eram queimados com papéis e paus húmidos para provocar uma fumaça negra. Hoje se usa um produto químico junto com as cédulas. Quando os votos atingem os três terços dos participantes, sai uma fumaça branca, produzida com a queima das cédulas, com um aditivo branco, indicando que o Papa foi eleito.
7 – DICASTÉRIO
DICASTÉRIO é o complexo da Cúria Romana que auxilia o Papa no governo da Igreja. A Cúria Romana, cujo chefe supremo é o Papa, se compõe dos seguintes organismos: Secretaria de Estado; Conselho para os Assuntos Públicos da Igreja; Congregações; Tribunais; Secretariados; Conselhos; Comissões Pontifícias e outros Departamentos.
Com a recente reforma do Papa Francisco, todas as Congregações da Cúria Romana são, agora, denominadas “Dicastérios”, como, por exemplo, o Dicastério para a Doutrina da Fé, o Dicastério para o Culto Divino, Dicastério para a Evangelização etc.
8 – ESCRUTÍNIO
ESCRUTÍNIO é a votação e a contagem dos votos, em quaisquer eleições. No Conclave, os escrutínios são os votos dos Cardeais, realizados na Capela Sistina, quatro vezes por dia, para a escolha do novo Papa. Após cada escrutínio se faz a contagem dos votos, até atingir os dois terços dos eleitores, exigidos para a validade da eleição do Romano Pontífice.
Cardeais reunidos em votação. Foto: Vatican News
9 – SUFRÁGIO
SUFRÁGIO, do latim “suffragium-ii”, significa “ajuda”. No sentido cristão, SUFRÁGIO significa as orações e qualquer obra de caridade oferecida em benefício das almas dos falecidos. Entre os sufrágios ocupa o primeiro lugar a celebração da Santa Missa.
Rezar pelos defuntos, além de ser uma das obras de misericórdia espiritual, é, também, a expressão de nossa união com as almas do purgatório. A Igreja militante unida à Igreja padecente. Este intercâmbio dos bens espirituais se chama “Comunhão dos Santos”, conforme rezamos no Símbolo dos Apóstolos.
10 – MISSA EXEQUIAL
Missa Exequial é aquela que se celebra por alma da pessoa falecida, que não foi, ainda, sepultada. Chama-se, também, “Missa de corpo presente”, mesmo que o corpo não esteja fisicamente presente no local da Missa.
São ainda Missas Exequiais aquelas que são celebradas por ocasião do sétimo e do trigésimo dia, bem como aquela do primeiro ano de falecimento.
11 – NOVENDIALI
NOVENDIALE é uma palavra italiana, que significa “novenário”. São as 09 Missas que se celebram por alma do Papa, logo após o seu falecimento e antes de suas Exéquias. É presidida, cada dia, por um dos cardeais. É um período de luto pela morte do Sumo Pontífice. Em sua homilia, o presidente da celebração costuma indicar o perfil que o novo Papa deverá ter.
Conclave de 1978. Foto: Vatican News
12 – TRADIÇÃO
TRADIÇÃO, no seu sentido comum, vem do latim “Traditio”, que quer dizer “entrega”. Algo que se passa de mão em mão, de geração em geração, como uma relíquia valiosa, de inestimável valor. Um patrimônio que faz parte da humanidade.
Na acepção cristã, a Tradição é a palavra de Deus, transmitida oralmente. A Sagrada Escritura, tanto o Antigo como o Novo Testamento, antes de ser escrita, foi anunciada de viva voz, pelos profetas, patriarcas, apóstolos etc. Por todos aqueles que Deus chamou para serem portadores de sua mensagem de salvação.
As tradições humanas, que não estão de acordo com a lei natural divina, devem ser corrigidas e, conforme o caso, suprimidas. Foi o que fez Nosso Senhor Jesus Cristo, combatendo a hipocrisia dos fariseus e, ao mesmo tempo, aperfeiçoando e dando cumprimento aos Mandamentos divinos.
13 – MISSA PRO ELIGENDO PONTIFICE
No início do Conclave, celebra-se a Missa, presidida pelo Decano dos Cardeais, para a “eleição do Pontífice”, pedindo a Deus as graças necessárias e as luzes do Espírito Santo para que os eleitores escolham aquele que é do agrado de Deus. É Deus quem deve agir e escolher o novo Pastor, através do sufrágio daquela assembleia, formada pelos Cardeais da Santa Igreja.
Vitral do Espírito Santo. Vaticano. Foto: Vatican News
14 – ANEL DO PESCADOR
Trata-se de uma referência a São Pedro, o primeiro Papa, que era um pescador por profissão. Quando Jesus o chamou para ser um de seus Apóstolos, disse-lhe: “De agora em diante, serás pescador de homens” (cf. Lc 5, 1-11; Mc 1, 17). Pedro deixou tudo: a profissão, a barca, a rede e a família e o seguiu.
O Papa, sucessor de Pedro, guia a Igreja como um pescador guia seu barco. Sua pesca consiste na evangelização e no cuidado de todos os membros da Igreja. O anel é um símbolo de sua autoridade papal e, por isso, é denominado “Anel do Pescador”, Anulus Piscatoris, em latim. Outrora era usado como selo (carimbo) para as cartas privadas.
Após o anúncio oficial da morte do Papa, seu anel é destruído, pelo Cardeal Camerlengo, com um martelo especial, indicando o fim da autoridade do falecido Papa.
15 – COMMENDATIO E VALEDICTIO
Os termos latinos, Commendatio e Valedictio, nos funerais do Papa, são os ritos solenes de despedida que marcam o fim das exéquias. A COMMENDATIO, ou, ÚLTIMA ENCOMENDAÇÃO, é uma oração em que a Igreja entrega a alma do Papa à misericórdia de Deus. A VALEDICTIO é a despedida pública e solene, feita pelas pessoas presentes, que pode se exprimir através de um profundo silêncio e o toque dos sinos.
16 – ROGITO
ROGITO é uma palavra italiana que significa outorga, declaração em escritura pública. Nos funerais do Papa, com este termo se entendem os escritos que narram a vida e os atos mais relevantes do Pontífice. São colocados num tubo próprio, selado, adrede preparado, e depositados dentro do caixão, ao lado do corpo do Papa.
Fotos: Vatican News