Advento é um tempo de graça, de tirar nossas máscaras, de ouvir o grito de João para voltar a Deus e começar uma nova vida. E para tal, devemos seguir o caminho da humildade.
Em síntese, foi o que disse o Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste II Domingo do Advento, 04 de dezembro, com os milhares de fiéis e turistas provenientes de várias partes do mundo reunidos na Praça São Pedro, agora adornada com os dois símbolos do Natal por excelência: o Presépio e a árvore, doados respectivamente pela cidade de Sutrio, na província de Udine e pelo povoado de Rosello, de 182 habitantes, nas montanhas do Abruzzo.
A reflexão do Santo Padre foi inspirada na figura de João Batista, um “homem alérgico à duplicidade”. De fato, segundo narra o Evangelho de Mateus (Mt 3, 1-12), ele “usava uma roupa feita de pelos de camelo” e “comia gafanhotos e mel do campo”, convidando todos à conversão: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo!”
Em outras palavras, “um homem austero e radical, que à primeira vista pode até parecer-nos duro e incutir um pouco de medo”, o que poderia nos levar a perguntar do porquê “a Igreja o propõe todos os anos como principal companheiro de viagem no tempo do Advento”.
Mas, questiona Francisco, “o que se esconde por trás de sua severidade, por trás de sua aparente dureza? Qual é o segredo de João? Qual a mensagem que a Igreja nos dá hoje com João?”:
Alguns deles, de fato, explicou o Papa, provavelmente o procuravam por curiosidade ou por oportunismo, pois havia se tornado muito popular, tinham uma visão muito positiva de si mesmos, “e diante do apelo contundente do Batista, justificaram-se dizendo: “Abraão é nosso pai”.
Assim, entre duplicidade e presunção, não acolhiam a ocasião de graça, a oportunidade de começar uma nova vida, “eram fechados na presunção de serem justos”. Por isso João lhes diz: “Produzi frutos que provem a vossa conversão!”:
É um grito de amor, como o de um pai que vê o filho se arruinar e lhe diz: “Não jogue fora a tua vida!”. Com efeito, queridos irmãos e irmãs, a hipocrisia é o perigo mais grave, porque pode arruinar até as realidades mais sagradas. A hipocrisia é um perigo grave. Por isso o Batista – como depois também Jesus – é duro com os hipócritas. Podemos ler por exemplo o capítulo 23 de Mateus, onde Jesus fala aos hipócritas do tempo, tão forte. E por que faz assim o Batista e também Jesus? Para sacudi-los. Em vez disso, aqueles que se sentiam pecadores “vinham ao encontro dele e, confessando os seus pecados, eram batizados”.
Francisco observa então, que as “reações alérgicas” de João Batista nos interpelam:
Não somos também nós às vezes um pouco como aqueles fariseus? Talvez olhemos os outros de alto a baixo, pensando ser melhores do que eles, de ter o controle da nossa vida, de não ter a cada dia a necessidade de Deus, da Igreja, de nossos irmãos (…). O Advento é um tempo de graça para tirar nossas máscaras – cada um de nós as tem – e colocar-nos em fila com os humildes; para libertar-nos da presunção de nos acharmos autossuficientes, para ir confessar nossos pecados, aqueles escondidos, e aceitar o perdão de Deus, para pedir desculpas a quem ofendemos. Assim começa uma nova vida.
E o caminho para isso é um só – frisou o Papa – o da humildade:
Purificar-nos do senso de superioridade, do formalismo e da hipocrisia, para ver nos outros irmãos e irmãs, pecadores como nós, e em Jesus ver o Salvador que vem para nós, não para os outros, para nós, assim como somos, com as nossas pobrezas, misérias e defeitos, sobretudo com a nossa necessidade de sermos elevados, perdoados e salvos.
E por fim, o convite a nunca esquecermos de que, “com Jesus, sempre existe a possibilidade de recomeçar. Sempre!”:
Que Maria – disse o Papa ao concluir – a humilde serva do Senhor, ajude-nos a encontrá-lo, a Jesus e aos irmãos no caminho da humildade que é o único que nos faz seguir em frente.