O abraço do Papa à comunidade de Asti, no norte da Itália, veio na manhã de domingo 20 de novembro, na Catedral de Nossa Senhora da Assunção pela Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Após percorrer a cidade e saudar de perto as pessoas a bordo do papa-móvel, Francisco deu início ao seu segundo e último dia na região do Piemonte, terras em que o seu pai emigrou para a Argentina e onde veio “reencontrar o sabor das raízes”, disse o Pontífice em homilia, ao fazer referência ao Evangelho de Lucas 23, 35-43 que “nos leva às raízes da fé” encontradas no “terreno árido do Calvário”.
O Papa, então, convidou a fixar “o nosso olhar n’Ele, no Crucificado”, despido na cruz, que ganhou a falsa imagem de realeza através de um letreiro na cruz. Mas, observando Jesus, alertou Francisco, “inverte-se a ideia que temos de um rei”, “vemos que é completamente diferente. Não está sentado num trono confortável” e “comporta-Se como servo cravado na cruz pelos poderosos”, “despojado de tudo, mas rico de amor”:
E só entrando no seu abraço, continuou Francisco, é que compreendemos que Deus Se deixou levar até o paradoxo da cruz para abraçar tudo em nós: a nossa morte, o nosso sofrimento, as nossas pobrezas, as nossas fragilidades.
“Eis o nosso Rei, Rei do universo, porque atravessou os confins mais remotos do humano, entrou nos buracos negros do ódio e do abandono para iluminar cada vida e abraçar toda a realidade. Irmãos, irmãs, tal é o Rei que hoje festejamos! Não é fácil de entender, mas é o nosso Rei.”
Esse é o modelo a seguir e a celebrar, acrescentou o Papa, por isso o convite para, “com frequência”, nos colocarmos diante do Crucificado e dar a possibilidade de “nos deixarmos amar por Ele”:
“E então compreendemos que não temos um deus desconhecido, lá em cima nos céus, poderoso e distante, não; um Deus próximo, a proximidade é o estilo de Deus: a proximidade, com ternura e misericórdia. Este é o estilo de Deus. Não tem outro estilo. Perto, misericordioso e terno. Terno e compassivo, cujos braços abertos consolam e acariciam. Eis o nosso Rei!”
Depois de termos contemplado Jesus na cruz, questionou o Papa, o que mais podemos fazer? Ser apenas um espectador – aquela grande maioria curiosa e indiferente que só observa e julga ao “assistir ao espetáculo cruento do fim inglorioso de Cristo”; ou quem se aventura e se envolve. O primeiro grupo, alertou o Pontífice, faz parte de uma “onda do mal”, que “é contagiosa”, feito uma “doença contagiosa” que acaba nos tornando em “cristãos de fachada, que dizem acreditar em Deus e querer a paz, mas não rezam nem cuidam do próximo”.
É o contágio letal da indiferença. Uma doença feia é a indiferença, sabe? ‘Isto não cabe a mim, não cabe a mim…’ indiferença para com Jesus e indiferença também para com os doentes, para com os pobres, para com os miseráveis da terra. Eu gosto de perguntar às pessoas, e peço a cada um de vocês; eu sei que cada um de vocês dá esmola aos pobres, e eu lhes pergunto: ‘Quando dá esmola aos pobres, olha nos olhos deles? Você é capaz de olhar nos olhos deles? Daquele pobre homem ou mulher que lhe pede esmola? Quando você dá esmola aos pobres, você joga a moeda no chão ou toca a mão deles? Você é capaz de tocar uma miséria humana?’ Cada pessoa então faz a resposta hoje. Aquelas pessoas eram indiferentes. Aquelas pessoas falam de Jesus, mas não se sintonizam com Jesus. E esse é o contágio letal da indiferença: que cria distância com a miséria.
Entretanto, entre muitos espetadores no território do Calvário, continuou o Papa, há quem se aventura e envolve. E o Evangelho fala “do bom ladrão para nos convidar a vencer o mal, deixando de ser espetadores. E de onde havemos de começar? Da confidência, de chamar a Deus pelo nome”, indicou Francisco, sem maquiagens:
“Por favor, não façam a espiritualidade de maquiagem: ela é entediante. Diante de Deus: sabão e água, somente. Sem maquiagem, a alma como ela é. E dali vem a salvação.”