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Papa Francisco faz visita histórica a Marselha em defesa dos migrantes

25 de setembro de 2023 Igreja no Mundo

O Papa Francisco visitou entre os dias 22 e 23 de setembro a Marselha, na França. O momento central da 44ª Viagem Apostólica Internacional do Santo Padre, foi a sua presença no encerramento dos “Encontros do Mediterrâneo”, que em sua terceira edição aconteceu na cidade francesa.

Ao chegar no Palácio do Farol, sede do encontro, o Pontífice foi recebido pelo presidente da República da França, Emmanuel Macron, e por sua esposa. Também acompanharam este momento o arcebispo de Marselha e o prefeito da cidade.

Após a saudação inicial por parte do arcebispo, e da exibição de um vídeo-síntese dos “Encontros do Mediterrâneo”, uma jovem italiana que atua como voluntária em uma casa de acolhimento de refugiados na Grécia, e um bispo albanês que migrou para a Itália, testemunharam suas histórias e destacaram a importância dos dias de reunião, ao tratarem das diversas realidades mediterrânicas.

Seguiu-se então o discurso do Papa, que demonstrou sua alegria e gratidão por estar presente no encerramento deste importante evento. Francisco evidenciou as características históricas de Marselha, e disse que a cidade nos diz que, apesar das dificuldades, a convivência é possível e geradora de alegria. “No mapa, entre Nisa e Montpellier, parece quase desenhar um sorriso; e assim me apraz pensá-la: como o sorriso do Mediterrâneo”, afirmou o Pontífice.

O Santo Padre abordou o significado do mar, e tudo aquilo que ele representa, seja historicamente ou nos desafios da atualidade, e ressaltou que o Mediterrâneo tem uma vocação específica:

“No mar dos conflitos de hoje, estamos aqui a fim de valorizar a contribuição do Mediterrâneo, para que volte a ser laboratório de paz. Pois esta é a sua vocação: ser lugar onde países e realidades diferentes se encontrem com base na humanidade que todos partilhamos, e não nas ideologias que se contrapõem. É verdade que o Mediterrâneo exprime um pensamento que não é uniforme e ideológico, mas poliédrico e aderente à realidade; um pensamento vital, aberto e conciliador: um pensamento comunitário. Quanto necessitamos dele no momento atual, quando nacionalismos antiquados e belicosos querem fazer cair o sonho da comunidade das nações! Mas lembremo-nos de que, com as armas, se faz a guerra, não a paz; e com a ganância de poder volta-se ao passado, não se constrói o futuro.”

O Papa recordou das inúmeras pessoas que vivem imersas na violência e padecem por situações de injustiça e perseguição. “Penso em tantos cristãos, muitas vezes obrigados a abandonar as suas terras ou a habitá-las sem ver reconhecidos os seus direitos, sem gozar de plena cidadania. Por favor, empenhemo-nos para que quantos fazem parte da sociedade possam tornar-se cidadãos de pleno direito”, ressaltou Francisco ao se recordar dos migrantes.

O Pontífice sublinhou que esta situação não é uma novidade dos últimos anos, “nem este Papa vindo da outra parte do mundo é o primeiro a senti-la com urgência e preocupação”, disse rferindo-se a si mesmo, e completou: “a Igreja fala disto com tons vivos há mais de cinquenta anos”.

“Tinha terminado há pouco o Concílio Vaticano II, quando São Paulo VI escreveu, na Encíclica Populorum progressio: “Os povos da fome dirigem-se, hoje, de modo dramático aos povos da opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a responder com amor ao apelo do seu irmão”. O Papa Montini enumerou três deveres das nações mais desenvolvidas, enraizados na fraternidade humana e sobrenatural: o dever de solidariedade, ou seja, o auxílio que as nações ricas devem prestar aos países em vias de desenvolvimento; o dever de justiça social, isto é, a retificação das relações comerciais defeituosas, entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, quer dizer, a promoção, para todos, de um mundo mais humano e todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.”

Para o Pontífice, é certo que estão à vista de todos, as dificuldades em acolher, proteger, promover e integrar pessoas não esperadas. O critério principal, porém, não pode ser a manutenção do próprio bem-estar, mas a salvaguarda da dignidade humana. “Aqueles que se refugiam junto de nós não devem ser vistos como um peso a carregar: se os considerarmos irmãos, aparecer-nos-ão sobretudo como dons”, afirmou o Papa.

“Pensando no mar, que une tantas comunidades católicas diversas, creio que se possa refletir sobre percursos de maior sinergia, talvez avaliando mesmo a oportunidade de uma Conferência dos Bispos do Mediterrâneo, que permita novas possibilidades de intercâmbio e dê maior representatividade eclesial à região”, disse Francisco,  pensando nos desafios da questão migratória, e na necessidade de desenvolver um trabalho em prol de uma pastoral específica ainda mais conectada, de modo que as dioceses mais expostas possam assegurar melhor assistência espiritual e humana às irmãs e aos irmãos que chegam necessitados de tudo.

O Santo Padre concluiu o seu discurso evidenciando a juventude que também foram peças fundamentais durante o encontro “Jovens bem formados e orientados para fraternizar poderão abrir portas inesperadas de diálogo. Se queremos que se consagrem ao Evangelho e ao nobre serviço da política, é preciso antes de tudo que nós próprios sejamos credíveis: esquecidos de nós mesmos, livres de autorreferencialidade, dedicados a gastar-nos incansavelmente pelos outros”, exortou Francisco.

Em suas palavras finais aos participantes, o Papa Francisco lhes encorajou:

“Continuai em frente! Sede mar de bem, para fazer frente às pobrezas de hoje com uma sinergia solidária; sede porto acolhedor, para abraçar quem procura um futuro melhor; sede farol de paz, para atravessar, através da cultura do encontro, os tenebrosos abismos da violência e da guerra.”

Texto: Thulio Fonseca – Vatican News

Imagem: Reprodução do Vatican News