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Paróquia de Monsenhor Horta resgata devoção a São Miguel

01 de outubro de 2019 Arquidiocese

Os fiéis da Paróquia São Caetano, de Monsenhor Horta, distrito de Mariana, viveram, nos últimos dias, a emoção de resgatar uma devoção que tem quase 300 anos no local. A festa em honra a São Miguel Arcanjo foi celebrada no último domingo (29), às 19h, com a bênção da imagem que agora compõe o altar lateral direito da igreja matriz, originalmente dedicado ao arcanjo.

A busca pela história da devoção no distrito começou com a curiosidade de Arthur Ramos Carneiro, natural de Monsenhor Horta e hoje morador de Ouro Preto. Ele lembra ouvir da avó, que foi morar no local, na década de 60, do terço rezado pelos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, hoje extinta, em todas as segundas-feiras, dia dedicado a reza pelas almas do purgatório. “Eles usavam uma opa verde e vinham aqui na igreja rezar. Mas isso acabou morrendo, a gente não sabe dizer o que de fato aconteceu”, revela.

O livro de compromisso da irmandade, que hoje seria como o estatuto, está no Museu da Inconfidência de Ouro Preto e é datado de 1722.  “Sabemos que é uma das devoções mais antigas de Monsenhor Horta. A Irmandade tem 297 anos e pode ser que seja ainda mais antiga,  podem ter feito o livro de compromisso depois”, considera.

Havia na matriz de São Caetano até o início dos anos 2000 uma imagem de São Miguel, que foi roubada junto com outras. Recentemente outra imagem foi encontrada pela paróquia e, segundo o pároco, padre Alex Martins de Freitas, tudo indica pertencer à irmandade. “A imagem tem 25cm e é bem provável que era utilizada num pequeno oratório para se adquirir ofertas para se celebrar a missa pelas almas”, conta. A imagem foi encontrada na casa de uma moradora falecida e precisa de restauração.

Assim como Arthur e o próprio pároco, a comunidade está feliz por conhecer e trazer de volta devoções de seus antepassados. “Eu estou sentindo até emoção. Eu tenho 82 anos e nunca ia pensar que ia acontecer uma coisa tão bonita conosco. Temos que agradecer a Deus”, diz Lucia Chagas Anacleto. Ela diz não ter perdido um dia da novena e estar confiante de que São Miguel atenderá o seu pedido.

Maria Guadalupe da Paixão considera importante resgatar o passado da comunidade e, mesmo sendo moradora dali, ainda não tinha ouvido falar da devoção. “Por exemplo, vinha com minha mãe desde os meus 7 anos para a igreja e nunca tinha reparado nas almas na balança de São Miguel, até o Arthur me mostrar hoje”, conta.

O coordenador da comunidade, Tobias Adriano dos Santos, também só conheceu a devoção recentemente e se sente feliz ao perceber que é possível resgatar uma fé tão presente na comunidade de antigamente. “É bonito ver nossas crianças participando dessa atividade de natureza religiosa para que eles não deixem isso morrer quando crescerem, para que já, a partir de agora, sejam envolvidas por essa emoção do Espírito Santo de ser fiel a São Miguel, ser fiel a tradição, ser fiel a Igreja, lutando e combatendo na fé”, afirma.

 

Mais do que tradição, o retorno a devoção é movido principalmente pela fé. Em sua homilia, padre Alex destacou que São Miguel é o Arcanjo que vêm em nosso socorro, luta a nosso favor contra as ciladas do demônio. “É aquele que brada junto com a gente ‘Quem é como Deus?’ e expulsa para longe de nós, da nossa família, da nossa comunidade, as forças diabólicas que querem nos destruir; por isso queremos retomar a nossa devoção ao arcanjo Miguel”, explicou.

Ressaltando que o arcanjo também deve ser protetor da comunidade do distrito, marcado “muitas vezes por tantas pragas, pestes, maldições, por tantos feitiços, por tantas contaminações do mal”, o padre instruiu sobre a necessidade de invocá-lo para a proteção das almas dos vivos e pelo alívio das almas dos fiéis defuntos.

“Precisamos invocar São Miguel pelos nossos irmãos e irmãs já falecidos, para que Deus alivie os seus sofrimentos no purgatório. São Miguel na Igreja é também invocado como aquele que conduz as almas até o Justo Juiz, que é Jesus”, lembrou.

Em memória a esta prática, a comunidade matriz voltará a celebrar uma missa em uma segunda-feira do mês por intenção das almas, prática feita anteriormente pela irmandade extinta.

Padre Alex também incentivou aos fiéis a rezarem pelos arcanjos São Rafael e São Gabriel, pedindo a cura de relacionamentos e a cura da cegueira espiritual ao primeiro e pedindo a comunicação da vontade de Deus ao segundo.