Após a celebração da Páscoa do Senhor, da bênção Urbi et Orbi e passeio de papamóvel entre os fiéis na Praça São Pedro, o Pontífice, que se mostrou fiel até o fim, fez sua páscoa definitiva e nos deixou um rico legado a ser seguido. O dia 21 de abril de 2025 será lembrado por toda a Igreja como o dia em que o Papa misericordioso nos deixou.
No sábado, dia 26 de abril, ocorreu a última Missa de Exéquias e o sepultamento do Santo Padre na Basílica Santa Maria Maior, a pedido do próprio papa. Participaram desse momento mais de 250 mil pessoas.
Padre Daniel Fernandes Moreira, sacerdote do Clero da Arquidiocese de Mariana, natural da cidade de Senador Firmino (MG), esteve da última Celebração de Exéquias do Papa Francisco e nos conta como foi participar desse momento histórico.
DACOM: Pe. Daniel, há quase três anos o sr. mora em Roma, estudando no Colégio Pio Brasileiro. Como foi que recebeu a notícia da morte do Santo Padre?
Pe. Daniel: Durante o período de convalescência do Papa no hospital, acompanhava com muita esperança as notícias que o boletim médico todos os dias nos apresentava. Tiveram dias bem difíceis, mas quando veio a alta do hospital, percebemos que o caminho de recuperação seria longo, mas cheio de esperança. Aí vieram as celebrações do Jubileu e da Semana Santa em que o Papa sempre arranjava um jeito de aparecer para cumprimentar o povo. Na Quinta-feira Santa foi ao presídio e, no Domingo, deu a bênção Urbi et Orbi e passeou na praça para estar no meio do povo ali presente, me fez acreditar que aos poucos recobraria suas forças e recuperaria a saúde. Na segunda-feira da oitava da Páscoa, comentávamos entre amigos aqui no colégio durante o café da manhã a beleza e simbologia do gesto que foi a bênção dada pelo papa no dia anterior. Todos estávamos admirados com a força e perseverança do Papa Francisco. Então subo para o meu quarto para continuar os estudos e encontro o pe. Fabiano Milione que me fala: “o papa morreu”. Foi uma experiência que não consigo descrever. Em princípio pensei que pudesse ser uma Fake News como tantas outras que se espalharam sobre a saúde do papa, mas não. Logo o Diretor de Estudos do nosso colégio nos convocou para rezamos a hora média em sufrágio do Papa Francisco e assim o fizemos. De fato, o Papa que concedia a bênção pascal a toda a cidade de Roma e o mundo, celebrava sua páscoa.
DACOM: O sr. participou dos momentos preparatórios para ao sepultamento do Papa? Como eram os momentos de homenagens a ele?
Pe. Daniel: Os primeiros momentos do funeral de um Papa são restritos aos bispos, cardeais e funcionários da Cúria Romana. Por isso, pude participar das homenagens ao papa somente depois que seu corpo foi trasladado para a Basílica de São Pedro já dentro do caixão como foi sua vontade. No segundo dia de velório público, saí às 6 da manhã do colégio. Quando a Basílica abriu para a visitação já estava na fila para entrar e, por volta das 9h, estava dentro da basílica. Ao meu redor se ouvia gente falando em Italiano, Inglês, Francês e outras línguas. Na fila, pensava na Igreja espalhada por todo o mundo desejosa de dar seu último adeus ao seu amado pastor, que, por doze anos mostrou ao mundo o rosto misericordioso e acolhedor de Jesus Cristo. Quando contemplei o papa ali, sem vida, vestido como para celebrar a solenidade de um mártir, me recordei das duas oportunidades que tive de me encontrar com ele. Veio-me em mente aquele seu sorriso contagiante e sua atenção quando escutava atenciosamente Dom Airton que me apresentava por ocasião da visita Ad Limina, bem como sua informalidade quando recebeu em audiência o nosso colégio nas comemorações dos 90 anos de sua fundação. Então, agradeci a Deus por ter nos dado aquele pastor que queria sempre ter cheiro de ovelhas e que nos falava do Evangelho com as palavras e com a vida.
DACOM: Como foi poder participar da última Missa de Exéquias do Pontífice? O mundo inteiro estava presente?
Pe. Daniel: Duas palavras sintetizam a experiência que tive em participar daquela Eucaristia: a primeira é emoção. Sem sombra de dúvidas foi emocionante estar ali e ver ser carregado para entrar e sair da Praça de São Pedro aquele que durante 12 anos conduziu a Igreja e um dia, sozinho, subiu as escadarias até o lugar onde agora foi colocado seu corpo esperando a última encomendação para abençoar toda a humanidade dizimada pela Pandemia do Covid-19. A segunda palavra é gratidão: gratidão a Deus pela vida, ministério e legado do Papa Francisco; gratidão a Deus por continuar conduzindo sua Igreja; gratidão a Deus pelos sinais de unidade e fraternidade que discretamente e informalmente se manifestavam ali, como, por exemplo, serem colocados lado a lado líderes religiosos de todo o mundo, seja da Igreja de rito romano e oriental e Ortodoxa, bem como líderes políticos de inumeráveis nações. Percebi claramente que o Senhor escutou o pedido final do Papa Francisco em oferecer seu sofrimento pela fraternidade entre os povos. Claro que muito precisa ser feito para que essa fraternidade se consolide, mas sem sombra de dúvidas vê-los ali reunidos para a despedida daquele que nos recordou que “somos todos irmãos” é um grande sinal de esperança.
DACOM: Qual o maior legado o Papa Francisco deixa para nós da Arquidiocese de Mariana?
Pe. Daniel: Dentre tantos ensinamentos que podem ser recordados, destaco aquele mais recente e que veio à tona com o caminho feito pela última Assembleia ordinária do Sínodo dos Bispos, a saber, a sinodalidade. Com esse processo, Papa Francisco nos ensinou a necessidade de estar aberto e disponível para escutar os clamores de todas as pessoas, não no desejo de modificar doutrinas apenas, nem na busca de adaptar a Igreja a meros interesses pessoais, mas sim no desejo de escutar a voz do Espírito que nos impulsiona a crescer sempre mais na configuração à Jesus Cristo morto e ressuscitado.
Foto: divulgação Vatican News
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