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Quais são os próximos passos até a canonização da Beata Isabel Cristina?

10 de maio de 2023

Relíquia da Beata Isabel Cristina exposta na cerimônia de beatificação. Foto: Amare Foto Sacra/Arquidiocese de Mariana

Em 10 de dezembro de 2022, a Arquidiocese de Mariana celebrou a beatificação da Mártir e Virgem, Isabel Cristina Mrad Campos. Para entender como foi esse processo e os próximos passos, o Jornal Pastoral conversou com Paolo Vilotta, postulador da causa. Tendo atuado primeiramente como assessor do postulador Padre Paulo Lombrado durante a fase diocesana da causa de beatificação, Paolo Vilotta assumiu o processo como postulador durante a fase romana e permanecerá na função em vista à canonização. 

Confira a entrevista na íntegra:

Paolo Villota é o postulador da causa da Beata Isabel Cristina. Foto: Thalia Gonçalves

Jornal Pastoral: Como foi construído o processo de beatificação?

Paolo Vilotta: Foi construído não somente para demonstrar o martírio, [mas também], o que não é todo mundo que faz, para demonstrar as virtudes. Graças a isso, conseguimos mostrar como ela, Isabel Cristina, foi consciente [em sua fé]. É muito importante lembrar a educação cristã que ela conservou até a morte, graças à família e aos vicentinos; uma linda continuidade das virtudes cristãs com os exemplos dos pais, da própria família, transmitido a nossa Beata. Isso, eu acho, que é uma mensagem muito importante, não somente lembrar o momento do martírio, que é fundamental, é uma coroa, mas também sua história. 

O Arcebispo também pediu um novo estudo que possa ajudar sobre os escritos dela. Os escritos de uma jovem que já na adolescência gostava de escrever alguma reflexão, alguma meditação. Então, no futuro, vai se fazer também esse trabalho. Isso vai ser muito importante para também conhecer Isabel Cristina na sua vida, antes daquele episódio, que é um dom da graça de Nosso Senhor. 

Jornal Pastoral: Como foi assumir a fase romana do processo de beatificação? O que levou a esse caminho?

Paolo Vilotta: Nesse caso, em um nível pessoal e profissional, foi muito bom para a minha formação porque foi uma das minhas primeiras causas na fase romana como postulador. Foi, no início, um “desafio” para mostrar as provas. Foi pedido também um inquérito supletivo que fizemos com a Cúria, que seria recolher nova documentação durante a fase romana, para demonstrar com mais força, com mais documentação, porque a Igreja pede um trabalho muito documentado e de testemunhos. Então, colocamos mais testemunhos e documentos para esclarecer alguma coisa e conseguimos apresentar novamente para mostrar o martírio da Isabel Cristina. Esse foi o trabalho técnico mais importante. 

Depois disso, foi construída a “Positio Super Martyrio”, que seria o resumo de todas as atas da fase diocesana, também o inquérito e outros documentos que saíram nesse período. É o resumo do livro mais importante sobre ela, [Beata Isabel Cristina], que fica guardado na Cúria. Esse resumo é aquele livro que depois da composição da Positio é estudado pelo Congresso dos Teólogos, por meio do qual os teólogos vão exprimir um parecer sobre o martírio dela e sobre a fama de martírio – se chama desse modo – [que] é uma unanimidade, somente algum ponto foi esclarecido. Eles fizeram um trabalho, exprimiram em voto, deram um parecer, que se chama “Relatio et vota”, que são as relações e os votos dos teólogos que aprovaram e estudaram a causa.

Como é a regra da Igreja, eles estudam, mas não são juízes. Eles, como teólogos, estudam de forma muito objetiva e entregam um parecer que ajuda os cardeais e bispos que, reunidos em uma comissão, estudam o documento. Eles, ajudados pelos teólogos, também vão exprimir um parecer com um sentido maior do que os teólogos, com mais relevância sobre o martírio, a autoridade da causa, para entregar todo aquele parecer ao Papa, porque o único legislador, o único juiz, é o Papa que, em 27 de outubro de 2020, autorizou o Cardeal Marcello Semeraro a publicar o decreto sobre o martírio. O Papa reconheceu que Isabel Cristina Mrad Campos é Virgem e Mártir; essa foi a decisão. 

Jornal Pastoral: Qual foi o papel desempenhado por Padre Geraldo Cifani Pinheiro, SVD para que essa beatificação acontecesse?

Paolo Vilotta: O Padre Geraldo Cifani não foi só o primeiro biógrafo, mas foi também a pessoa que foi atrás da causa, [esse] é o trabalho mais complicado: apresentar, mostrar, recolher as primeiras declarações. Sem o trabalho dele, hoje, nenhum de nós poderia falar dessa beatificação. Então, é importante evidenciar esse trabalho. 

Também, evidenciar a confiança, depois de uma meditação e estudo, do nosso grande Servo de Deus, Dom Luciano. Foi todo um caminho. Isso é uma coisa muito linda. Evidenciar e lembrar as pessoas que trabalharam [em prol do processo]. […] É importante lembrar dessas pessoas para a memória histórica, mas também para a justiça, virtude cristã.

Quero lembrar também do Arcebispo Emérito, Dom Geraldo Lyrio Rocha, na continuidade de Dom Luciano. Eles, os dois bispos, o Padre Cifani e o Padre Paolo Lombardo, o primeiro postulador da causa, e também os trabalhos e dedicação do Diácono Antônio Rodrigues do Prado e do Monsenhor Roberto Natali Starlino.

Jornal Pastoral: Quais são os próximos passos para a canonização? 

Paolo Vilotta: Segundo as normas da Igreja, necessita comprovar um milagre que acontece depois da beatificação ou depois do decreto do martírio. É presumido o milagre e para comprová-lo necessita constituir novamente uma fase diocesana, como aquilo que fizemos, mas será concentrado no milagre. A juridicização é onde acontece o presumido milagre, não é necessariamente aqui [na Arquidiocese de Mariana]; pode acontecer em qualquer lugar e lá faz-se esse trabalho. 

Jornal Pastoral: Qual é a diferença da beatificação para a canonização?

Paolo Vilotta: Na prática, a diferença é o culto. Na beatificação, o culto é público, mas sobre algumas coisas como dedicação de igrejas e capelas só se pode fazer, sem pedir autorização, em toda a Arquidiocese de Mariana e na Arquidiocese de Juiz Fora. Um exemplo concreto: uma outra cidade que pertence juridicamente a uma outra diocese, aquela paróquia, aquela igreja, por meio da própria diocese, necessita pedir a autorização ao Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos em Roma. Depois, na canonização, o culto é público, tem todo um ofício litúrgico próprio. Agora [na beatificação], também o ofício litúrgico é um pouco menor: somente na segunda leitura, a coleta e o próprio, não tem mais alguma coisa na beatificação. 

É claro que no sentido de santidade ela já é santa, mas é uma tradição cristã confirmada de atender para uma segurança de extensão do culto, somente isso. Mas digo que o martírio foi comprovado no momento da publicação do decreto sobre o martírio e depois é tudo uma questão de culto. Muitas vezes falam: “o Papa santificou”. Não, o Papa canonizou; colocou no cânone universal da Igreja, no calendário [litúrgico] universal. 

* Por Thalia Gonçalves para a edição nº 327 do Jornal Pastoral

Outras notícias sobre a Beata Isabel Cristina estão disponíveis em: www.arqmariana.com.br/isabel-cristina

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