Movidos pela fé, cerca de cem devotos do Padre Arlindo Vieira realizaram, nos dias 15 e 16 de junho, uma peregrinação ao Santuário São Domingos de Gusmão, em Diogo de Vasconcelos (MG), onde estão os restos mortais do sacerdote.
O grupo, com origem das cidades paulistas de Ribeirão Grande e Capão Bonito, chegou em dois ônibus no início da manhã do sábado, dia 15. Cantando em procissão, os romeiros se dirigiram ao santuário. Nas mãos, levavam flores, objetos, pedidos, homenagens e agradecimentos por graças alcançadas, colocados no túmulo do grande e ilustre missionário.
Ao longo dos dois dias, os peregrinos tiveram a oportunidade de fazerem suas orações pessoais e devocionais, sendo recebidos pela Paróquia São Domingos de Gusmão e por toda a comunidade, que preparou um lugar para eles descansarem e momentos de refeição.
A peregrinação teve ainda a presença de dois sacerdotes, que na noite de sábado celebraram a Eucaristia junto aos romeiros e toda comunidade vasconcelence.
Padre Renato Arlindo Ferreira, da Diocese de Itapeva (SP), um dos sacerdotes que acompanhou a romaria, relatou o seu sentimento em participar desse momento. “Pude sentir que, de fato, acontece um momento de encontro com Deus e de comunhão com os irmãos de fé. Durante a romaria, de cerca 1.200 km, os participantes têm a oportunidade de fazer momentos de encontros e de fé através de diversões e orações”, disse.
Segundo Padre Renato, uma característica marcante da peregrinação é a presença dos idosos. “Eles são responsáveis por animar os mais jovens para que não se perca a memória do saudoso Padre Arlindo”, defende.
“Muitos deles sabem que não o verão nos altares, porém, nutrem da esperança de ver os mais jovens empenhados na mesma causa. Por isso, promovem belos momentos de oração e atividades de evangelização. Através desse incentivo, podemos ver a participação ativa dos jovens na romaria e tem sido fundamental para renovar a fé e despertar o interesse dos mais jovens em se envolverem com a igreja”, pontuou.
O sacerdote ainda comentou sobre sua esperança em ver padre Arlindo sendo proclamado santo.
“Para mim, a romaria foi um momento de se reconectar com Deus, de pedir perdão pelos pecados e de agradecer pelas bênçãos recebidas. Destaco como importante, exatamente essa oportunidade de renovar a fé e fortalecer o nosso relacionamento com Deus, alimentando a esperança de ver um dia o santo Padre Arlindo sendo proclamado e venerado nos altares”, afirmou.
Para o seminarista Diêgo Souza Almeida, do 2º ano de Teologia e que faz o seu estágio pastoral na Paróquia São Domingos, a experiência de estar com o grupo de fiéis duramente o final de semana foi muito significativa em sua vida e vocação.
“Em primeiro lugar, foi perceptível enxergar em cada rosto a alegria de ser de Cristo e sempre estar em espírito de oração. Durante todo o dia, muitos fiéis permaneciam dentro da Igreja fazendo suas orações e preces. Em segundo lugar, pude notar como é viva a fé e devoção de cada um deles no saudoso Padre Arlindo, em que eles tanto confiam como intercessor e procuram imitar seu exemplo e ensinamentos”, descreveu.
De acordo com o seminarista Diêgo, muitas orações foram feitas diante do túmulo do padre Arlindo. “Muitas manifestações de fé e devoção foram externalizadas com uma homenagem diante do túmulo com flores, cartas e objetos pessoais; muitos queriam adquirir uma lembrancinha para levarem de volta para a casa, como livros, velas, medalhinhas com a foto do padre”, contou.
Segundo Diêgo, a ocasião também foi para ele um momento de oração e reflexão sobre o seu sonho em ser presbítero. “Em vários momentos os fiéis diziam como Padre Arlindo vivia seu sacerdócio. Sacerdote zeloso, grande pregador, missionário, preferia estar em locais mais pobres e humildes, amava as crianças. Tudo isso nos mostra como deve ser um padre. Ou mais ainda, diante do carinho do povo para com ele, como as pessoas desejam que um sacerdote seja nos tempos de hoje”, reforçou.
Segundo relatos, a primeira romaria saindo de Capão Bonito aconteceu em 1973, onde quatro pessoas em uma Kombi foram até Diogo de Vasconcelos. Realizada quase que anualmente, essa peregrinação atrai muitas famílias que buscam manter viva a memória do Padre Arlindo.
O presbítero ainda não foi elevado aos altares, mas é popularmente aclamado como santo, devido sua vida exemplar e virtuosa. Por uma série de imprevistos e pela pandemia nos anos anteriores, essa foi a primeira vez que os fiéis retornaram a Diogo de Vasconcelos desde 2019.
Padre Arlindo Vieira, SJ, nasceu em Capão Bonito (SP), em 1897, e morreu em Diogo Vasconcelos (MG), em 1963. Desde a infância mostrava interesse pelo sacerdócio, entrando para o seminário aos 11 anos. Foi ordenado padre diocesano com 23 anos e trabalhou um ano na paróquia de Avaré (SP).
Posteriormente, Padre Arlindo decidiu entrar para a Companhia de Jesus, fazendo o seu noviciado em Nova Friburgo (RJ). Alguns anos depois o sacerdote foi para Roma, onde estudou na Universidade Gregoriana. Voltando ao Brasil, dedicou-se à educação, porém deixa o ensino, dedicando-se principalmente à pregação.
Foi um grande missionário popular nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, quase sempre em localidades menores e mais pobres, atraindo muitas pessoas que admiravam a sua pregação.
A partir de 1943, as missas na Paróquia de São Domingos de Gusmão, em Diogo de Vasconcelos, passaram a ser celebradas por Padre Arlindo, que era muito querido pelos moradores da comunidade.
O sacerdote, ainda em vida com fama de santidade, foi o responsável pela missa do padroeiro por cerca de 20 anos, falecendo em uma das celebrações no dia da festa de São Domingos, em 4 de agosto de 1963, aos 66 anos.
O movimento de romeiros na Festa de São Domingos já era muito grande, mas desde a morte do padre, a cada ano, o número de fiéis foi aumentando. Pessoas, na sua maioria, simples e humildes, que vão até a pequena cidade de Diogo de Vasconcelos, onde estão os restos mortais de Padre Arlindo, para fazerem suas orações, preces, agradecerem por algum milagre ou pagarem alguma promessa.
Atualmente, a paróquia possui duas missas aos finais de semana na Igreja Matriz, sempre contando com a presença de alguns romeiros. A festa da paróquia acontece no primeiro domingo de agosto, sendo as celebrações uma homenagem ao padroeiro e ao saudoso Padre Arlindo.
Além disso, a paróquia possui uma sala de milagres, onde podem ser vistos e testemunhados muitos milagres atribuídos ao Padre Arlindo.
Não existe ainda um processo de beatificação aberto para tratar desta causa. Todavia, aqueles que receberem alguma graça por intercessão de Padre Arlindo devem comunicar a Paróquia São Domingos pelo e-mail psdgdiogo@hotmail.com ou psdgdiogo@gmail.com.
Texto: Seminarista Diêgo Souza Almeida
Fotos: Diêgo Souza Almeida e Giovani Augusto