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Vacinas não são instrumentos mágicos de cura, mas solução razoável para prevenção do coronavírus, diz o Papa

10 de janeiro de 2022

As vacinas não são “instrumentos mágicos de cura”, mas “a solução mais razoável para a prevenção do coronavírus”, disse o Papa Francisco, nesta segunda-feira, 10 de janeiro. O pontífice recebeu em audiência o corpo diplomático credenciado junto à Santa Sé para os tradicionais votos de Ano Novo. Além de defender a vacinação, Francisco sustentou que a paz é contagiosa, e que se constrói com diálogo e fraternidade. Foram abordadas as temáticas da migração e das mudanças climáticas como os “principais desafios que a humanidade deve enfrentar hoje”.

Tradicionalmente, o discurso aos diplomatas no início do ano é ocasião para uma análise de conjuntura internacional. Nesta segunda-feira, estiveram presentes no Vaticano diplomatas representando mais de 180 países. Francisco recordou que o objetivo da diplomacia é “ajudar a deixar de lado os dissabores da convivência humana, favorecer a concórdia e experimentar como, superando as areias movediças da conflitualidade, podemos redescobrir o sentido da unidade profunda da realidade”.

Vacinas: solução mais razoável

O Papa pediu que prossiga o esforço para imunizar o máximo possível a população mundial, não obstante a desigualdade no acesso às vacinas. Estas, afirmou, não são “instrumentos mágicos de cura”, mas “a solução mais razoável para a prevenção do coronavírus” e é preciso deixar de lado as “fake news” e o embate ideológico:

“Todos temos a responsabilidade de cuidar de nós próprios e da nossa saúde, o que se traduz também no respeito pela saúde de quem vive ao nosso lado. O cuidado da saúde constitui uma obrigação moral.”

 

Papa Francisco e diplomatas credenciados junto à Santa Sé

Papa Francisco e diplomatas | Foto: Vatican Media

 

Vencer a indiferença

Apesar das restrições, em 2021 foram retomadas as audiências a chefes de Estado no Vaticano, bem como as viagens apostólicas internacionais. O Pontífice mencionou o encontro de reflexão e oração pelo Líbano, e as visitas a Iraque, Budapeste, Eslováquia, Chipre e Grécia.

Ao recordar a etapa na ilha de Lesbos, falou do drama da migração e da necessidade de vencer a indiferença.

“Diante destes rostos, não podemos permanecer indiferentes, nem se pode entrincheirar atrás de muros e arame farpado a pretexto de defender a segurança ou um estilo de vida.”

Não se trata apenas de um problema da Europa, mas diz respeito também à África e Ásia, como demonstra o êxodo de refugiados sírios, afegãos e os inúmeros latino-americanos, sobretudo haitianos.

Direito à vida e à liberdade religiosa

Contudo, diante de desafios globais, as soluções tendem a ser cada vez mais fragmentadas, constatou Francisco, apontando para uma crise de confiança das instituições. “Pelo contrário, é preciso recuperar o sentido da nossa identidade comum de uma única família humana.”

Mais uma vez, alertou para os perigos da colonização ideológica e do pensamento único e reafirmou a existência de valores permanentes, como o direito à vida “desde a concepção até ao fim natural”, e o direito à liberdade religiosa.

O cuidado da nossa Casa Comum constitui o terceiro desafio planetário. Diante de uma contínua e indiscriminada exploração dos recursos, é preciso encontrar soluções comuns e colocá-las em prática. “Ninguém pode eximir-se deste esforço, pois interessa e envolve igualmente a todos.”

Para Francisco, a timidez demonstrada na COP26 deve ser superada na COP27, prevista para novembro próximo no Egito.

Audiência foi realizada na Sala das Bênçãos

Audiência foi realizada na Sala de Bênçãos. Créditos: Vatican Media

Conflitos intermináveis

Mas além das crises globais, há aquelas regionais, que se tornaram “conflitos intermináveis, que por vezes assumem a fisionomia de verdadeiras e próprias guerras por procuração (proxy wars)”. São elas: Síria, Iêmen, Terra Santa, Líbia, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia, Cáucaso e Myanmar.

O Papa também falou sobre o contexto das Américas:

“As desigualdades profundas, as injustiças e a corrupção endêmica, assim como as várias formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, continuam a alimentar conflitos sociais também no continente americano, onde as polarizações cada vez mais fortes não ajudam a resolver os problemas reais e urgentes dos cidadãos, sobretudo dos mais pobres e vulneráveis.”

Todos os conflitos são favorecidos pela abundância de armas à disposição. Citando Paulo VI, recordou que quem possui armas acaba mais cedo ou mais tarde por usá-las, porque, “não se pode amar com armas ofensivas nas mãos”.

Dentre as armas que a humanidade produziu, causam particular preocupação as armas nucleares, disse o Papa, reiterando a posição contrária da Santa Sé: “A sua posse é imoral”.

Jamais abdicar da responsabilidade de educar

Convencido de que “diálogo e fraternidade são os dois focos essenciais para superar as crises do momento presente”, o Santo Padre concluiu repropondo dois elementos da mensagem para o Dia Mundial da Paz 2022: educação e trabalho. E manifestou sua dor diante dos abusos cometidos em centros educativos, como paróquias e escolas e a necessidade de justiça.

“Não obstante a gravidade de tais atos, nenhuma sociedade pode jamais abdicar da responsabilidade de educar.”

Ao se despedir dos embaixadores, Francisco citou o profeta Jeremias, que lembra que Deus tem para nós “desígnios de prosperidade e não de calamidade”.

“Por isso, não devemos ter medo de abrir espaço para a paz na nossa vida, cultivando o diálogo e a fraternidade entre nós. A paz é um bem ‘contagioso’, que se propaga a partir do coração de quantos a desejam e aspiram a vivê-la abraçando o mundo inteiro.”

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A Santa Sé mantém relações diplomáticas com 183 países. A estes se acrescentam a União Europeia e a Soberana Militar Ordem de Malta.

Texto: Bianca Fraccalvieri – Vatican News com adaptações da CNBB

Imagens: Vatican Media

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