Foto: Thalia Gonçalves/Dacom Arquidiocese de Mariana
“Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim, porque eu sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 28-29). Assim, Cristo nos chama a confiar em seu amor e em sua misericórdia. Convite esse que é enfatizado durante o mês de junho, tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus.
Ao longo dos 30 dias, os fiéis se voltam à contemplação e ao respeito ao coração manso e humilde de Cristo que, em sua infinita bondade, acolhe e atende às súplicas dos seus filhos e filhas. Segundo Padre Marcos Macário Mendes, essa piedade popular tem suas primeiras origens ainda na Sagrada Escritura, quando o evangelista São João afirma: “um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água”.(Jo 19, 34).
Entretanto, foi a partir de 1673, quando Jesus começou a aparecer à Santa Margarida Maria Alacoque, uma monja da Ordem da Visitação de Santa Maria, que a piedade popular ganhou forças e propagou. Conforme narrado por pesquisadores, em suas visitas à monja visitandina, Cristo aparecia de forma radiante e com o seu coração à mostra sobre o peito, coroado por espinhos e sobre o qual brotava uma cruz, pedindo-a que cultivasse uma devoção por seu divino coração.
De acordo com o sacerdote, foram três as “grandes aparições” de Nosso Senhor à Santa Margarida Maria, recomendando-a algumas práticas para se viver a devoção como a comunhão reparadora, nas nove primeiras-sextas-feiras, e as doze promessas. “Nelas estão incluídos todos os estados, bem como todos os momentos da vida, inclusive a hora da morte. Elas são um testamento de bondade e amor de Jesus, deixado para aqueles que se empenharem em divulgar e praticar a devoção ao seu Coração Sagrado, incluindo promessas de âmbito temporal e espiritual”, explica o sacerdote.
Na Arquidiocese de Mariana, três paróquias são dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus: no distrito ouro-pretano de Miguel Burnier (MG) e nos municípios de Conselheiro Lafaiete (MG) e Mariana (MG). Apesar de não se saber com precisão quando se iniciou a piedade popular nesta Igreja Particular, a introdução da primeira imagem do Sagrado Coração de Jesus aconteceu por volta de 1748 pelo primeiro bispo da então Diocese de Mariana, Dom Frei Manuel da Cruz, que entronizou a imagem no altar de São José, na Catedral de Mariana. Segundo alguns pesquisadores, essa foi a primeira imagem do Sagrado Coração de Jesus em Minas Gerais.
Outro evento importante, aponta padre Macário, foi a construção de um Santuário Arquidiocesano onde a devoção ao Sagrado Coração de Jesus fosse referência, sendo que o primeiro foi instituído por Dom Helvécio Gomes de Oliveira em Miguel Burnier (MG). Posteriormente, o centro de peregrinação foi transferido por Dom Oscar de Oliveira para um novo santuário que foi construído em Conselheiro Lafaiete (MG) a partir de 1965 e que, em 2003, foi elevado à Basílica Menor pelo então Papa, São João Paulo II, tornando-se uma das cinco Basílicas no mundo dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.
“Em nossa Arquidiocese, o ponto principal da devoção ao Sagrado Coração de Jesus é a prática da Comunhão Reparadora nas Nove Primeiras Sextas-feiras para desagravar o Sagrado Coração e para honrá-lo com especial amor e devoção”, conta o sacerdote, destacando a tradicional entronização dos Sagrados Corações de Jesus e Maria em Basílica e Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Conselheiro Lafaiete, onde atuou como Pároco e Reitor. Vale lembrar que no sábado seguinte à Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja celebra o Imaculado Coração de Maria.
Segundo o presbítero, a prática da entronização consiste em colocar no trono os Corações de Jesus e de Maria, declarando-os reis daquele lar. “Certamente surgiu como resposta ao pedido e à promessa de Jesus: ‘A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de Meu Sagrado Coração’”, afirma. Para isso, ele explica que as famílias que queriam praticar tal ato, convidavam o sacerdote para que fosse à sua casa e fizesse a entronização pela primeira vez. Posteriormente, anualmente, naquela mesma data, ela se reunia novamente diante das imagens ou quadros entronizados e renovava a sua consagração.
“Em Conselheiro Lafaiete (MG), contudo, devido à presença de um centro de devoção ao Sagrado Coração de Jesus, o saudoso Monsenhor Hermenegildo Adami de Carvalho, primeiro Pároco e construtor do Santuário Basílica, achou por bem realizar tal ato através das ondas do rádio a cada ano, no dia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Assim, a primeira Entronização pela rádio aconteceu no ano de 1967. Nela, o Monsenhor dirigia meditações às famílias, sobre o reinado de Jesus, sobre o que consistia em tal ato solene e sobre a prática religiosa e moral que deveriam adotar após a entronização”, detalha.
Marcado pela união familiar, o presbítero destaca que, para o povo lafaietense, esse é um dos momentos centrais de manifestação de fé, e praticamente todos os lares católicos da cidade, unidos louvam e exaltam o Sagrado Coração de Jesus. Além da entronização, muitas paróquias e comunidades realizam durante o mês de junho coroações como forma de vivenciar a sua fé.
Uma das mais conhecidas demonstrações de veneração ao Sagrado Coração é o Apostolado da Oração (AO). Atualmente chamado de Rede Mundial de Oração do Papa, os integrantes do AO têm como compromissos realizar diariamente o seu oferecimento, rezar pelas intenções mensais propostas pelo pontífice e praticar a avaliação diária sobre a sua vida. Introduzido no Brasil através de dois missionários jesuítas, conforme o padre Macário, o Apostolado da Oração é um dos movimentos mais presentes nas paróquias da Arquidiocese de Mariana, seja em número de centros, seja pela quantidade de membros.
Como sinal de pertencimento ao Apostolado da Oração, os membros usam uma fita vermelha próximo ao pescoço. De acordo com a integrante do Apostolado, Magna Maria Cota de Andrade, a pedido do Papa, a fita deve ser utilizada em todas as celebrações. “O significado da fita é essa pertença ao Sagrado Coração de Jesus que é eterna. Então, quando a gente [do apostolado] morre, a gente pode ser sepultada com essa fita”, pontua a fiel da Comunidade de Nossa Senhora do Rosário, pertencente à Paróquia do Sagrado Coração de Jesus em Mariana (MG).
Por Thalia Gonçalves para o Jornal Pastoral
Com a colaboração do seminarista Eduardo Lucas Rocha do 2º ano de Filosofia
*Este texto foi originalmente publicado na edição nº 317 do Jornal Pastoral – LEIA AQUI