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Pandemia, luto e o cuidado pastoral

01 de novembro de 2021 Arquidiocese

Nesta terça-feira, 02 de novembro, a Igreja celebra a “Comemoração de todos os fiéis defuntos”, uma ocasião para lembrar dos irmãos que partiram desta vida e também para celebrar a vida em Cristo na certeza da ressurreição.

Considerando a data, o Departamento Arquidiocesano de Comunicação (Dacom) compartilha o texto escrito pelo Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana, Monsenhor Luiz Antônio Reis Costa, sobre o luto e o cuidado pastoral para a edição nº 318 do Jornal Pastoral.

Confira:

A experiência do luto é, inegavelmente, um dos acontecimentos mais dolorosos com os quais nos deparamos ao longo da nossa existência. A morte de amigos e familiares emerge como interrupção, ruptura e até destruição de sonhos, projetos e expectativas. É praticamente inevitável a sensação de vazio, desamparo e a profunda dor emocional causados pela partida de entes queridos. Ao longo dos séculos, as culturas e as religiões elaboraram os mais variados processos de luto onde a socialização e a ritualização em torno da morte têm conferido sentido, consolo e integração. Ponto central é o oferecimento de presença, acolhida e mútuo amparo nessas situações extremas onde aflora dramaticamente a fragilidade humana não só nos que pereceram, mas também nos seus familiares e amigos remanescentes. 

A pandemia causada pela Covid-19 impôs duras normas sanitárias que atingiram também a realização dos funerais. As restrições quanto à realização dos velórios, com a imposição de um tempo reduzido, o distanciamento social e a proibição dos costumes fúnebres tradicionais, a redução das cerimônias ao mínimo, tudo isso causou o rompimento de uma ampla rede social de apoio e efetivação do processo do luto. 

A psicóloga Natália Pavani tece importantes considerações sobre essa realidade: “um levantamento recente sobre o tema diante de outros surtos de doenças infecciosas, como o cólera e ebola, aponta que o isolamento dos doentes e a impossibilidade de realizar os rituais pós-morte específicos a cada cultura causam impacto negativo no processo de luto de uma comunidade. Ainda não temos estudos robustos sobre o real efeito do novo coronavírus nesse quesito e no chamado luto complicado — quando esse processo se torna um problema de saúde. Mas algumas pesquisas sugerem um aumento na intensidade e no prolongamento dos sintomas vivenciados pelo luto”.  E acrescenta: “Não dizemos adeus da mesma forma que antes. Não podemos oferecer o amparo presencialmente. Não temos mais o olho no olho que acolhe e diz que, independentemente do que acontecer, ficaremos ao seu lado. Como familiares, a sensação de impotência é devastadora”. 

A tarefa que se impõe é a da humanização do luto, incluído o especial cuidado em relação às famílias que foram duramente provadas pela morte de um ou mais dos seus membros. Tal humanização pede proximidade, escuta, acolhida e ternura. A vivência cotidiana das comunidades cristãs pode oferecer esse espaço indispensável para relacionamentos que visam amparar, fortalecer e até reconstruir vidas profundamente abaladas por mortes que se produziram como verdadeiros dramas humanos.  São lágrimas, dores e desamparos que pedem a luz do Evangelho e o calor humano de uma autêntica fraternidade cristã.

Texto: Monsenhor Luiz Antônio Reis Costa – originalmente publicado na edição nº 318 do Jornal Pastoral

Imagem: Susan Cipriano – reprodução Pixabay

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