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, 27 de abril de 2024

Procissão do Depósito e Sermão do Pretório reforçam laços de fé e tradição em Mariana

26 de março de 2024 Arquidiocese

Chamados a percorrer com Jesus o caminho até o Calvário, os fiéis de Mariana (MG) participaram na noite desta Segunda-Feira Santa, 25 de março, da procissão piedosa do depósito da imagem de Nosso Senhor dos Passos, seguido do Sermão do Pretório. Neste ano, o pregador convidado para auxiliar nas meditações foi o Bispo Emérito de Sete Lagoas (MG), Dom Aloísio Jorge Pena Vitral.

Quem é Jesus?

Dom Airton José dos Santos durante a celebração eucarística da Segunda-Feira Santa.

A caminhada piedosa foi antecedida pela celebração eucarística presidida pelo Arcebispo Metropolitano, Dom Airton José dos Santos, na Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção.

À ocasião, o Pastor desta Igreja Particular refletiu sobre o Evangelho do dia (Jo 12, 1-11), quando Nosso Senhor visita os seus amigos pela última vez, provocando aos presentes: “quem é Jesus Cristo? Quem é esse que os judeus queriam ver por causa dos seus gestos, por causa daquilo que fazia?”. “Jesus Cristo não é um santo mais poderoso do que os outros santos, diferente; Jesus Cristo não é um profeta; Jesus Cristo é Deus e Senhor, isso que nós cremos”, enfatizou.

Fiéis lotaram a Catedral para a celebração.

Continuando sua meditação sobre o Evangelho, o Arcebispo Metropolitano de Mariana ainda pontuou que os judeus foram até a casa de Lázaro por curiosidade, para ver aquele que Jesus havia ressuscitado, e, como cristãos, não devemos ter esse sentimento diante da presença Dele. “Nós não somos curiosos. Somos homens e mulheres de fé. […] Quando participamos da Santa Missa, nós queremos fazer isso com o coração de filhos e filhas”, disse.

Por fim, Dom Airton recordou que Jesus, além de ser traído por um dos seus discípulos, foi vítima de calúnias e difamação. “Nós celebramos na Semana Santa este paradoxo: o amor de Cristo por todos os seus algozes e a capacidade humana de fazer o mal, de trocar o que é certo por aquilo que é errado, de trocar aquilo que é justo porque é injusto. Nós vamos, nesta Semana Santa, vivenciar tudo isso. Por isso, queridos irmãos e irmãs, hoje, após a Santa Missa, nós devemos fazer um gesto concreto: vamos caminhar em procissão, para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, levando conosco a imagem de Nosso Senhor dos Passos, Aquele que caminhou para o Calvário levando sua própria Cruz para ser crucifixado”, concluiu.

Nosso Senhor dos Passos: fé e tradição em Mariana

Dom Airton abençoou a imagem restaurada.

Após a comunhão, Dom Airton realizou a bênção da imagem de Nosso Senhor dos Passos que, nos últimos meses, passou por restauração e foi revelada aos fiéis, pela primeira vez após o processo, nesta Segunda-Feira Santa. Ela é uma das 27 peças que compõem a imaginária da Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção e uma das primeiras restauradas.

Segundo o Pároco e Reitor da Catedral, Padre Geraldo Dias Buziani, esse trabalho contemplou a descupinização, limpeza, reintegração cromática e recomposição de partes que faltavam. “Contemplem a mão que segura a Cruz, que foi toda restaurada; contemplem os pés, que estava com o verniz já escurecido, gasto […]”, evocou.

Detalhes da mão do Senhor dos Passos após a restauração.

“É uma alegria, para gente, contemplar esta imagem, agora, na sua vivacidade, na sua beleza, toda restaurada, porque nos evoca a Paixão de Cristo […]. Que contemplando e carregando a imagem de Cristo, aqui na terra, possamos um dia contemplar sua imagem no céu”, afirmou o sacerdote.

Para Leonardo Francisco Santos Ribeiro, a restauração ficou esplendida. Desde o século XIX, sua família é a provedora da imagem de Nosso Senhor dos Passos, em Mariana, sendo sua mãe a atual responsável. “Quando eu perguntei minha mãe ‘o que a senhora acha da restauração do Senhor dos Passos?’ Ela só olhou para ele, encheu os olhos d’água, e disse: ‘é algo que minha mãe nunca viu e eu estou vendo’”, contou.

Mãe de Leonardo, provedora de Nosso Senhor dos Passos, contempla a imagem restaurada. Foto: Arquivo pessoal de Leonardo Santos Ribeiro

“Os pés dele estavam praticamente na madeira e bem se vê a forma que as pessoas tinham a devoção em passar a mão nos pés do Senhor dos Passos. Era exatamente o pé da frente que estava completamente sem a sua carnação, estava completamente na madeira, e pensamos: quantas pessoas, às vezes em desespero ou em alguma situação muito delicada da vida, recorreram às mãos e passaram naqueles pés e que, de fato, receberam algum conforto ou que foram aliviadas de suas penas”, detalhou Leonardo.

Coberta pelo velário, a imagem deixou a Catedral ao som da marcha fúnebre “Lágrima de Cristo” executada pela Banda Santa Cecília, do distrito de Passagem de Mariana, lágrimas essas que, simbolicamente, caíram do céu chuvoso ao longo de todo o percurso da Sé até a Igreja Nossa Senhora do Rosário.

Page levou as relíquias de Nosso Senhor dos Passos pela procissão.

Durante a procissão, um paje carregava uma salva de prata com relíquias da veste de Nosso Senhor dos Passos para ser repartida aos fiéis que não haviam ainda pegado a sua durante a missa. Segundo Leonardo, essa é uma tradição antiga que consiste em fazer, todos os anos, roupas novas para a imagem e cortando a do ano anterior para ser distribuídas aos devotos. “A minha mãe, que tem 90 anos, tem ainda uma das primeiras relíquias que ela recebeu do Senhor dos Passos da mãe dela”, revelou.

Repartida a todas as pessoas, Leonardo aconselha: “bote na carteira, dentro do travesseiro, dentro da camisa de um doente. O que vale é essa fé toda que é envolta nessa relíquia, desse elemento sagrado. É uma relíquia, assim, muito efêmera porque, de fato, não é a túnica de Nosso Senhor Passos que subiu para o Calvário, mas só das pessoas saberem que tocaram na imagem de Nosso Senhor dos Passos já cria uma aura muito sagrada”, disse. De acordo com ele, recentemente, não estão sendo mais feitas as relíquias, pois a última roupa que foi cortada era grande, tendo ainda relíquias disponíveis para os próximos anos.

Cada passo é uma dor

Mesmo com a chuva, fiéis participaram ativamente da procissão.

À chegada da procissão, o Nosso Senhor dos Passos foi desvelado para a veneração dos fiéis e a pregação do Sermão do Pretório. Proferido pelo Bispo Emérito de Oliveira (MG), o Sermão do Pretório convidou aos fiéis a meditarem sobre os passos de Jesus Cristo até o Calvário e seu julgamento.

Na sua reflexão, Dom Aloísio fez uma analogia dos passos de Jesus rumo ao Calvário com os das pessoas nos dias atuais, como as vítimas dos rompimentos das barragens do Fundão, em Bento Rodrigues (MG), e Córrego do Fundão, em Brumadinho (MG). “Cada passo é uma dor. Cada passo é uma companhia que nós somos chamados a fazer: ‘não pudestes vigiar uma hora comigo?’. Ficar com Ele, estar com Ele, permanecer com Ele”, disse.

Dom Aloísio Vitral pregou o sermão desta Segunda-Feira Santa.

Ainda, falando sobre os desafios enfrentados na vida, Dom Aloísio destacou: “o nosso caminho não é livros de autoajuda. Não é isso que resolve o nosso problema. A nossa principal razão de ser é estar com aquele que é o Senhor. Portanto, a salvação dele vem do profundo, vem do ser”.

A imagem de Nosso Senhor dos Passos está ao longo desta terça-feira, 26 de março, disponível para a veneração dos fiéis na Igreja Nossa Senhora do Rosário, onde acontecerá a Santa Missa, às 19h. Após a celebração, uma procissão luminosa com a imagem percorrerá os passos de Mariana até a Praça Minas Gerais, quando o Bispo Auxiliar Eleito de Goiânia (GO), Monsenhor Danival Milagres Coelho, pregará o Sermão do Encontro.

Texto e fotos: Thalia Gonçalves/Arquidiocese de Mariana

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