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11 meses da tragédia é pauta de Seminário em Mariana

06 de outubro de 2016 Arquidiocese

Próximo de completar um ano do rompimento da barragem de Fundão, o Fórum Acolher propôs um seminário de discussões sobre o acontecimento. Realizado no Centro de Pastoral, em Mariana, no dia 5 de outubro, o encontro falou sobre questões relacionadas a políticas públicas, planejamento estrutural urbano, riquezas da cidade e as consequências trazidas depois do dia 5 de novembro de 2015. A mesa foi composta pela psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Márcia Mansur, pelo professor da Faculdades Arquidiocesana de Mariana, padre Lúcio Álvaro Marques, e mediada pelo coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Geraldo Martins.

Trazendo as origens da exploração do ouro e do minério e a constituição e formação da cidade de Mariana, o início dos trabalhos teve como partida a reflexão incitada pelo padre Lúcio sobre o minério como base econômica do município. Em seu discurso, a problemática sobre o futuro da cidade sem a empresa Samarco e a falta de revestimento dos impostos pagos pela empresa em melhorias para a cidade foram pontos chaves. “Até quanto essa cidade verá na única lógica de exploração do minério, de gastar pessoas na industria do minério e de construir barragens? Quem contará a historia dos escravos das minas que morreram retirando ouro? E quem contará a história dos ex moradores dos distritos de Mariana? Quem são essas pessoas? Pessoas que possuem uma história, uma vida que agora podem ser silenciadas pelo capital”, provocou o padre.

Seguindo a narrativa do seminário, a psicóloga Márcia Mansur trouxe a temática “Cidade, políticas públicas e acolhimento” como proposta de debate. Em sua fala, Márcia destacou a importância de não tratar a comunidade afetada e atingida pela tragédia como homogênea, pois apesar da relação coletiva ser forte existem causas individuais a serem consideradas. A recorrência de casos como o ocorrido em Mariana também foi apontada pela psicóloga ao ser falado sobre traumas e relações após uma grande tragédia. Isso foi abordado ao apresentar questões sobre preconceito, perca de território e memória. “Pensar em território e pertencimento é importante. Porque onde a pessoa mora, as relações que ela constrói, as solidariedades, as trocas é essencial na formação da sua subjetividade”, ressaltou. Como instrução para os profissionais da área da psicologia que estão atuando em Mariana, a professora apresentou textos de pesquisas e livros que podem auxiliar na formação e condução dos problemas e traumas encontrados depois desse acontecimento.

Na mediação, o padre Geraldo Martins fez apontamentos importantes sobre as falas dos dois convidados e evidenciou a necessidade de se refletir sobre o conjunto de tudo que vêm acontecendo desde o dia 5 de novembro. “Penso que se nós colocamos a pessoa no centro, nós mudamos o nosso jeito de relacionar com ela, mas se a economia continua no centro, a história muda também. A raiz de tudo isso não é de agora e vem de muito tempo. Isso tem implicação na relação de uns com os outros. E se nós fizermos essa reflexão a partir da economia o outro fica de lado. E aí podemos correr o risco de tornar ré quem é vítima. Aí nos fechamos ao acolhimento do outro”, concluiu.

Diante do assunto, um dos atingidos do subdistrito de Bento Rodrigues, Expedito Lucas da Silva, se emocionou ao expor a situação após quase um ano de rompimento da barragem. “Não somos mais livres, sentimos prisioneiros. Eu que cheguei depois aqui me sinto errado e hoje sou chamado de aproveitador pelas pessoas. Isso dói demais”, explicou.

A conversa apresentou indagações que foram dialogadas na parte da tarde. De acordo com a organização do evento, após as discussões um documento será produzido para firmar compromisso e ações a serem realizadas.

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